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Romançe Salçubre

Romançe Salçubre

Ela acordou naquela manhã com uma sensação estranha, como se estivesse sendo observada por um par de olhos invisíveis. A bruma matinal se esgueirava pelas ruas estreitas de Ouro Preto, tornando tudo nebuloso e surreal. Ela se levantou, sacudiu a sensação inquietante e foi preparar o café. Os grãos, moídos manualmente, exalavam um aroma familiar e reconfortante.
Enquanto se dirigia ao trabalho, notou um homem parado na esquina. Ele tinha um ar de melancolia que imediatamente chamou sua atenção. O estranho, com seus olhos profundos e misteriosos, parecia de outra época. Desviou o olhar, mas não pôde evitar a sensação de que ele a seguia.

No escritório, tentou se concentrar, mas os pensamentos sobre o homem na esquina a distraíam. Durante o almoço, enquanto caminhava pela praça, viu-o novamente. Desta vez, ele estava mais próximo, e ela pôde ver a suavidade de seus traços. Sentiu um calafrio percorrer sua espinha. Parecia ser o tipo de pessoa que guarda muitos segredos.

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Naquela noite, ao voltar para casa, a cidade estava mergulhada em sombras e o som dos seus passos ecoava pelas pedras do calçamento. Ela se sentia estranhamente atraída pela presença daquele homem. Era como se ele fosse uma parte perdida de sua própria alma, uma sombra do passado tentando encontrar seu caminho de volta para a luz.
Nos dias seguintes, Marta começou a notar pequenos sinais: um bilhete deixado no banco do parque onde ela costumava sentar, uma flor colocada na sua mesa do escritório, e até mesmo uma música tocada por um violinista na praça, que parecia ser escolhida só para ela. A cada novo encontro, ela sentia que ele estava tentando se comunicar, mas sem palavras.

Decidida a confrontar o mistério, resolveu seguir os rastros que ele deixava. Uma noite, encontrou um livro antigo em seu caminho para casa. Era um diário, datado de mais de um século atrás. Ao abrir, viu o nome do autor. As páginas estavam cheias de poemas e reflexões sobre um amor perdido e uma busca incessante por reconciliação.
Aos poucos, foi percebendo que as entradas no diário refletiam os sentimentos que ela vinha experimentando. Era como se ele estivesse contando a história de sua própria vida. As palavras falavam de uma mulher que ele amara profundamente, mas que perdera em um trágico acidente. Desde então, seu espírito vagava, preso entre dois mundos, tentando reencontrar sua amada.

Uma noite, enquanto lia o diário em voz alta, sentiu uma presença ao seu lado. O ar ficou mais frio e ela soube que ele estava ali. Levantou os olhos e o viu, o homem da esquina, parado na sua sala. Seus olhos estavam cheios de tristeza e esperança.

“Você me encontrou,” ele sussurrou, sua voz ecoando como um sussurro de vento.

Sentiu uma lágrima escorrer pelo rosto. “Quem é você?” perguntou, embora já soubesse a resposta.

“Sou um reflexo de você mesma,” respondeu. “Estamos ligados por algo que transcende o tempo e o espaço. Meu amor por você é eterno, mas precisamos nos libertar dessa ligação para que ambos possamos seguir em frente.”
Percebeu que as percepções fantasmagóricas que vinha tendo não eram meramente alucinações, mas fragmentos de uma vida passada. Sabia o que tinha que fazer. Com uma coragem renovada, pegou o diário e, em um ato simbólico, o colocou na lareira. As chamas dançaram e iluminaram a sala, enquanto ele sorria para ela uma última vez.
Quando o livro se transformou em cinzas, sentiu uma paz profunda. O espírito dele se dissipou, finalmente livre. Ela olhou para a janela e viu a cidade se transformar com a luz do amanhecer. Sabia que, ao libertar-lo, também tinha se libertado.

A vida continuou, mas ela sempre guardou no coração as memórias daqueles dias estranhos e mágicos, um lembrete de que o amor verdadeiro pode atravessar até mesmo as barreiras do tempo e do espaço.
Com o passar dos dias, sentiu uma leveza que não experimentava há anos. A presença constante dele, agora ausente, deixava um vazio, mas também abria espaço para novas possibilidades. A cidade de Ouro Preto, com suas ladeiras e casarões coloniais, parecia diferente, mais vívida e cheia de promessas.

Uma manhã, enquanto tomava café na pequena cafeteria onde costumava ir, foi abordada por um jovem com um sorriso simpático e olhos curiosos. Ele se apresentou, um historiador que estava pesquisando sobre a cidade e seus mistérios. Conversaram por horas, descobrindo uma conexão imediata. Ela contou a fantasma e o diário, e ele, fascinado, sugeriu que escrevessem juntos sobre a história.

Trabalhar com ele trouxe uma nova energia à vida dela. Passavam tardes na biblioteca, desenterrando documentos antigos, e noites conversando sobre suas descobertas. Aos poucos, ela percebeu que a presença dele não era apenas profissional. Ele tinha um jeito de fazer seu coração bater mais rápido, de preencher o vazio deixado por Vicente com uma doçura e paixão que ela não esperava encontrar novamente.

Certa noite, após um dia particularmente produtivo de pesquisa, ele convidou-a para um jantar. No restaurante acolhedor, iluminado por velas, a olhou nos olhos e confessou seus sentimentos. Ela, surpreendida pela intensidade de suas próprias emoções, sorriu e segurou sua mão. “Também sinto o mesmo,” disse, com voz suave e sincera.
O relacionamento deles floresceu, e com ele, o livro sobre O Fantasma tomou forma. Ao finalizar o manuscrito, decidiram publicá-lo, acreditando que a história de amor e perda poderia tocar outras vidas. O livro foi um sucesso, trazendo à tona a rica tapeçaria de histórias que Ouro Preto escondia.

Enquanto ela avançava em sua vida com Lucas, ela nunca esqueceu. Em momentos de silêncio, sentia uma presença reconfortante, como um antigo amigo que observava de longe. Sabia que, de alguma forma, sempre faria parte dela, mas agora, ela estava pronta para abraçar o presente e construir um futuro.

Num entardecer dourado, decidiram visitar o cemitério da cidade, onde haviam encontrado o túmulo do fantasma durante suas pesquisas. Levaram flores e as colocaram sobre a lápide antiga. Ela sentiu uma brisa suave acariciar seu rosto e sussurrou: “Obrigada, Por me ajudar a encontrar a paz e o amor novamente.”

Enquanto saíam, de mãos dadas, olhou para o horizonte e viu o sol se pondo, pintando o céu com cores vibrantes. Sentiu que a história havia se completado, não apenas a do vulto, mas também a sua. E com o novo amigo ao seu lado, sabia que estavam prontos para escrever muitos outros capítulos juntos.

Assim, ela seguiu com sua vida, plena de amor, lembranças e esperanças. Aprendeu que, mesmo as percepções fantasmagóricas do passado podem nos guiar para um futuro luminoso, onde o amor verdadeiro sempre encontra seu caminho, através do tempo e das almas.

Certa manhã, enquanto trabalhavam na editora finalizando os detalhes para o lançamento do livro, uma carta anônima foi entregue à porta do escritório. Curiosa, a abriu e, para sua surpresa, encontrou uma mensagem escrita em uma caligrafia antiga e familiar: “O amor transcende o tempo, mas às vezes, ele precisa de um empurrãozinho.”
Intrigados, seguiram as pistas que a carta fornecia, levando-os a uma casa antiga na periferia de Ouro Preto. A casa parecia saída de um conto de fadas, com um jardim selvagem e uma aura de mistério. Ao entrarem, foram recebidos por uma senhora idosa, que se apresentou como, uma conhecedora de segredos antigos.

Contou a eles uma história surpreendente. O Fantasma, na verdade, era um antepassado distante dela. Ele havia feito um pacto místico para garantir que sua linhagem encontrasse sempre o amor verdadeiro. A carta era uma última tentativa dele de assegurar que o romance perdurasse e que permanecessem juntos.

A reviravolta trouxe risos nervosos e incredulidade. Ela, sem saber se ria ou chorava, olhou para ele e disse: “Parece que temos mais uma aventura pela frente.”
Decidiram seguir as orientações da anciã para quebrar o pacto místico. A instrução era clara: deveriam realizar um ritual antigo na noite da próxima lua cheia, no cemitério onde ele estava enterrado. Era uma tarefa tanto assustadora quanto ridícula, mas eles estavam dispostos a tentar.

Na noite do ritual, armados com velas, flores e uma série de itens peculiares que a senhora havia dado, se dirigiram ao cemitério. A atmosfera era pesada, mas a presença dele ao seu lado dava a ela a coragem que precisava.
Enquanto montavam o cenário para o ritual, algo inesperado aconteceu. Uma figura fantasmagórica apareceu diante deles, mais real do que nunca. Ele estava rindo. “Vocês realmente acreditaram em tudo isso? Meu único desejo era que você, encontrasse o amor e a felicidade. Parece que consegui, de uma forma ou de outra.”

Trocaram olhares atônitos antes de começarem a rir também. A situação toda era tão absurda que só podia ser resolvida com humor. A aparição continuou: “Agora, a única coisa que resta é viverem suas vidas plenamente. Não há mais pactos, apenas as escolhas que vocês fazem.”
Com uma piscadela, desapareceu, deixando eles no cemitério, ainda rindo da ironia da situação. O ritual, na verdade, era uma piada final, um testamento de seu amor e sua capacidade de trazer alegria, mesmo na morte.
Voltaram para casa com um novo senso de leveza. O livro sobre O Fantasma foi lançado e se tornou um sucesso estrondoso, transformando a história dele em uma lenda romântica e cômica, cheia de reviravoltas.

Continuaram suas vidas, sempre lembrando da aparição com um sorriso. À vezes, o amor verdadeiro não só transcende o tempo, mas também traz consigo um toque de humor. E assim, eles viveram felizes, com amor e risos, sabendo que até os fantasmas podem ter um senso de humor.

Renato Pittas:

Contato:[email protected]   

https://sara-evil.blogspot.com

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