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Drugstore

Drugstore

Quando ele entrou na velha drogaria da esquina, a vitrine reluzente de cores vibrantes e sons distorcidos. As novas latas de Coca-Cola prometiam sabores inéditos: cherry com canela, açúcar mascavo, chiclete de bola, ping-pong, e tutti frutti. A loja parecia um caleidoscópio, uma mistura de passado e presente, de realidade e ilusão.
Saiu da drogaria, desorientado, e começou a andar pela avenida. Seus passos eram incertos, tortos, como se estivesse flutuando em um mar de concreto. As luzes dos semáforos piscavam em padrões estranhos, hipnotizando-o, enquanto ele tentava se manter alerta aos sinais de trânsito. “Empty and classless looking for an abbey road,” murmurava para si mesmo, uma linha perdida de uma canção que tocava em sua mente.
Os monstros de outrora estavam por toda parte, escondidos nas sombras, disfarçados em rostos familiares. Uma menina má sorria de um banco de praça, seus olhos brilhando com uma malícia antiga. As tradições que ele conhecera estavam sendo deixadas para trás, e o duvidoso parecia ser a única certeza em seu caminho.

Enquanto caminhava, os ventos do norte e do sul começavam a sussurrar segredos em seus ouvidos, promessas de um “valhala” moderno. As boas novas do céu celestial vinham com o advento de uma nova crença, abduzida e traduzida numa língua digital. Era a fala alienígena da era da videoconferência, onde a intimidade se perdia em pixels e conexões de alta velocidade.
As conversas ao seu redor eram sorrateiras, fragmentos de diálogos que ele captava ao passar por estranhos. “O mundo mudou,” diziam alguns. “Estamos todos conectados, mas tão distantes.” Ele sentia uma angústia crescente, uma necessidade de encontrar um significado em meio àquele caos.
Ele parou diante de um velho mural pintado com cores desbotadas. Era o retrato de uma cidade que ele mal reconhecia, um eco do passado em um presente surreal. Respirou fundo e fechou os olhos, tentando se reconectar com alguma coisa, qualquer coisa que o fizesse sentir-se real novamente.

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Quando os abriu, a avenida parecia menos tortuosa, as cores menos intensas. Talvez, pensou ele, o mundo estivesse em constante transformação, mas havia uma beleza intrínseca na jornada, na busca interminável por sentido em meio ao caos. E assim, ele continuou a andar, um peregrino em uma terra psicodélica, sempre em busca de novos sabores e novas verdades.

As ruas se estendiam em espirais intermináveis, um labirinto urbano onde os edifícios pareciam se curvar e respirar ao ritmo de uma sinfonia invisível. Ele avançava, cada passo ecoando uma batida incerta, oscilando entre o presente e fragmentos de memórias desbotadas. O ar carregava um perfume doce e enjoativo, uma mistura de tutti frutti e nostalgia.
Luzes piscavam em padrões hipnóticos, um convite tentador para entrar em bares e clubes onde as paredes falavam e os espelhos refletiam realidades alternativas. Sons distorcidos de músicas eletrônicas se mesclavam com sussurros indecifráveis, criando uma trilha sonora que invadia sua mente. “Bem-vindo à nova ordem,” dizia uma voz metálica, vinda de um alto-falante invisível.

Pessoas passavam por ele como sombras efêmeras, seus rostos borrados e inexpressivos. Riam e conversavam em uma língua que ele mal compreendia, uma mistura de dialetos antigos e códigos binários. Cada rosto era uma máscara, cada olhar um enigma. Ele tentava decifrar seus gestos, mas tudo se dissolvia em um caleidoscópio de cores e sons.

A menina má reapareceu, agora flutuando acima do chão, seus cabelos em chamas dançando ao vento. Ela apontava para um portal cintilante, um arco-íris líquido que se erguia entre dois edifícios. “Venha,” ela sussurrou, “além deste arco-íris, encontra-se a verdade que procura.” Hesitou, mas a curiosidade era mais forte que o medo. Atravessou o portal e sentiu-se mergulhar em um oceano de luz.
Do outro lado, o mundo era diferente, uma paisagem surreal onde as leis da física eram meras sugestões. Árvores de cristal cresciam ao longo de rios de mercúrio, e o céu pulsava com auroras boreais que cantavam canções de tempos imemoriais. Ele sentia-se leve, quase sem peso, como se a gravidade fosse uma lembrança distante.

Criaturas etéreas deslizavam ao seu redor, seus corpos translúcidos emitindo um brilho suave. Elas sussurravam segredos ancestrais, promessas de sabedoria e conhecimento. “Aqui,” diziam, “todos os sonhos são possíveis, e todas as perguntas encontram respostas.” Ele estendeu a mão e tocou uma dessas criaturas, sentindo uma onda de paz e entendimento inundar seu ser.

Mas mesmo neste paraíso, havia sombras. Monstros de outrora, agora transformados em sabedoria esquecida, observavam-no com olhos luminosos. “A verdade tem um preço,” advertiam. “Cada revelação traz consigo uma nova dúvida, e cada resposta, uma nova pergunta.” Assentiu, aceitando o desafio. Afinal, a busca pela verdade era interminável, um ciclo eterno de descoberta e mistério.

Caminhava por esse novo mundo, percebeu que a jornada era o verdadeiro tesouro. As ruas tortuosas e os sinais hipnóticos da cidade, os sussurros e as vozes metálicas, tudo fazia parte de um grande mosaico. Era um peregrino em uma terra, sempre em movimento, sempre aprendendo, sempre mudando.

Assim, continuou, um viajante, perdido na profusão de frases e cores, sabores e sons, sempre em busca da próxima revelação, do próximo horizonte a ser desvendado.
Avançava com passos firmes e incertos, cada nova descoberta trazendo um misto de maravilha e inquietação. O tempo parecia curvar-se e distender-se, transformando minutos em horas e horas em momentos fugazes. As criaturas etéreas acompanhavam-no como guias silenciosos, seus sussurros ecoando no fundo de sua mente.

De repente, encontrou-se diante de uma vasta biblioteca flutuante, suas prateleiras repletas de livros que pulsavam com uma luz interna. Cada livro parecia conter um fragmento do universo, uma história que esperava ser desvendada. Pegou um volume ao acaso, e ao abrir, foi inundado por visões de mundos distantes e épocas esquecidas.
As páginas contavam a saga de civilizações que surgiram e desapareceram, de amores perdidos e reencontrados, de batalhas épicas e alianças improváveis. Via a si mesmo refletido em cada história, uma figura solitária em busca de sentido em um cosmos infinito. Cada palavra era um espelho, cada frase um portal para uma nova dimensão.

A menina má apareceu novamente, agora transformada em uma figura benevolente, seus olhos refletindo a sabedoria do universo. “Você chegou longe,” ela disse suavemente, “mas a jornada nunca termina. Cada resposta é apenas o início de uma nova pergunta, cada descoberta uma nova aventura.”

Sentiu uma paz profunda ao ouvir essas palavras. Entendia agora que a busca pela verdade era um ciclo interminável, mas isso não era motivo de desespero. Pelo contrário, era uma fonte inesgotável de maravilha e crescimento. O verdadeiro tesouro estava na viagem, nas experiências e nas conexões feitas ao longo do caminho.
Com um último olhar para a biblioteca flutuante, ele agradeceu silenciosamente e voltou ao seu caminho. As ruas da cidade estendiam-se à sua frente, um tapete de possibilidades infinitas. Caminhava com uma nova determinação, um viajante eterno em uma terra de sonhos e mistérios.

Enquanto as luzes piscavam e as sombras dançavam ao seu redor, sorriu. Sabia que, onde quer que fosse, sempre haveria novas histórias a serem contadas, novos sabores a serem experimentados e novas verdades a serem descobertas. Continuou sua jornada, um peregrino no coração do surreal, sempre em movimento, sempre em busca.

A velha drogaria, com suas promessas de novos sabores, ficou para trás, um marco no início de uma aventura sem fim.

Renato Pittas :

Contato:[email protected]  

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