Estranho
I
Pode parecer estranho, mesmo não sendo depende de pontos de vista diferentes e ocasiões tambem diferentes vamos seguindo pelas ruas esquecidas desta cidade milhões de almas aglomeradas em predios que se estendem aonde era mata virgem, quando olho do alto vejo a cidade estender seu tapete de concreto e eletricidade, por todos os lados, pessoas acentenas de milhares atordoadas ou realizadas no seu dia a dia.
II
A cidade pulsava com uma energia frenética, um labirinto de concreto e eletricidade que se estendia até onde os olhos podiam ver. Milhões de almas se moviam em sincronia desordenada, preenchendo as ruas esquecidas com uma cacofonia de passos e murmúrios. De cima, a vista era um tapete cinza pontilhado por luzes neon, uma selva urbana que outrora fora uma mata virgem.
Observava essa cena do alto de um arranha-céu, seus olhos captando cada detalhe com uma precisão quase sobrenatural. Ele não se encaixava ali, mas também não se sentia deslocado. Era como se pertencesse a todos os lugares e a nenhum ao mesmo tempo. Essa dicotomia o fascinava.
Caminhando pelas ruas abaixo, as pessoas pareciam autômatos, atordoadas pela rotina ou realizadas em suas pequenas conquistas diárias. Desceu para o nível da rua, sentindo o peso das almas ao seu redor. Conseguia ver além das fachadas humanas, enxergando suas verdadeiras essências como fios de energia vibrantes e entrelaçados.
Em uma esquina, uma mulher de aparência cansada, mas com um brilho nos olhos, oferecia flores eletrônicas que mudavam de cor conforme o humor de quem as segurava. Elias comprou uma e a segurou firmemente, observando a flor pulsar em um azul profundo, refletindo sua introspecção.
Caminhando mais adiante, ele chegou a um beco onde um grupo de artistas pintava murais interativos. As cores dançavam e se transformavam ao toque, criando uma sinfonia visual que hipnotizava os passantes. Parou por um momento, tocando uma parte do mural. Imediatamente, uma imagem de sua infância surgiu, projetada no concreto. Ele sorriu com nostalgia e continuou seu caminho.
O ar estava impregnado com um cheiro doce e metálico, uma mistura de progresso e decadência. Sabia que a verdadeira magia dessa cidade não estava nas luzes ou nos arranha-céus, mas nas conexões invisíveis entre as pessoas, nos pequenos gestos que revelavam mundos inteiros.
Quando a noite caiu, a cidade se transformou. As luzes neon lançavam sombras dançantes nas paredes, e os sons se tornaram uma melodia hipnótica. Encontrou um parque escondido entre os prédios, um oásis de verde em meio ao cinza. Sentou-se em um banco e observou as estrelas artificiais no céu, refletindo sobre a estranheza e a beleza da existência.
Nesse momento, ele percebeu que a verdadeira essência da cidade estava na sua capacidade de ser muitas coisas ao mesmo tempo – um lugar de sonhos e de realidades, de luzes e sombras, de encontros e despedidas. E, talvez, essa fosse a maior magia de todas: a capacidade de transformar o estranho em familiar e o familiar em estranho, dependendo apenas do ponto de vista.
Respirou fundo, sentindo o ar noturno invadir seus pulmões. Fechou os olhos por um momento, deixando-se envolver pela melodia da cidade. De repente, uma sensação de desconforto o fez abrir os olhos novamente. À sua frente, uma figura envolta em sombras se materializava lentamente, emergindo das profundezas do parque.
A figura tinha um semblante sereno, mas seus olhos brilhavam com uma intensidade incomum. Era difícil definir suas feições – elas pareciam mudar a cada instante, como um reflexo distorcido em um espelho de água. Não sentiu medo, apenas uma curiosidade irresistível.
— Boa noite. — disse a figura, sua voz soando como um sussurro de vento.
— Boa noite — respondeu, levantando-se do banco. — Quem é você?
A figura sorriu, e por um breve momento, Ele teve a impressão de estar olhando para si mesmo.
— Sou um reflexo, uma sombra do que você pode ser e do que você já foi. Esta cidade é um lugar de encontros, não só entre pessoas, mas entre diferentes versões de nós mesmos. Você já se perguntou quantas possibilidades existem em um único ser?
Ele franziu a testa, intrigado.
— Muitas vezes. Mas nunca pensei que encontraria uma versão minha aqui.
— Talvez você não tenha percebido, mas nós nos cruzamos muitas vezes antes — disse a figura, começando a caminhar ao redor dele. — A diferença é que agora você está pronto para ver. Esta cidade, com toda sua estranheza e beleza, é um reflexo de seu próprio interior. As luzes neon, as sombras dançantes, os murais interativos… tudo isso é parte de você.
Enquanto caminhavam, a figura continuava a falar, suas palavras ressoando profundamente dentro dele..
— Cada pessoa que você encontra, cada momento que você vive, é uma oportunidade de descobrir mais sobre si mesmo. Você vê essa cidade como um lugar de concreto e eletricidade, mas também como um local de conexões invisíveis. Esse é o segredo: ver além da superfície, entender que cada interação é uma dança entre o familiar e o estranho.
Eles chegaram a uma clareira no parque, onde uma fonte jorrava água cristalina iluminada por luzes multicoloridas. A figura parou e apontou para a fonte.
— Olhe para a água. Veja o seu reflexo.
Se aproximou e olhou para a superfície da água. O reflexo que viu não era apenas o seu rosto, mas uma miríade de rostos, cada um representando uma possibilidade diferente. Havia versões dele mais jovens, mais velhas, algumas com sorrisos largos, outras com expressões de tristeza ou determinação.
— Esses são todos os “você” que existem. Todos os caminhos que você pode tomar, todas as escolhas que você pode fazer. Esta cidade lhe oferece a chance de explorar essas possibilidades, de se perder e se encontrar de novo.
Sentiu uma onda de compreensão e aceitação. Percebeu que a verdadeira aventura não estava em encontrar um lugar onde pertencesse, mas em descobrir e abraçar todas as partes de si mesmo.
— Obrigado — disse ele à figura, que agora começava a se desvanecer. — Obrigado por me mostrar isso.
A figura sorriu uma última vez antes de desaparecer completamente, deixando-o sozinho na clareira. Olhou para a cidade ao seu redor, sentindo-se mais conectado do que nunca. Caminhou de volta para as ruas movimentadas, sentindo-se renovado e pronto para abraçar cada momento, cada encontro, cada estranheza e beleza que a vida lhe oferecesse.
E assim, seguiu pelas ruas esquecidas da cidade, sabendo que, apesar de tudo parecer estranho, ele fazia parte de um todo maior, onde cada passo, cada respiração, era uma dança entre o conhecido e o desconhecido, o familiar e o estranho. E isso era extraordinariamente belo.
À medida que caminhava pelas ruas, ele notava as pequenas coisas que antes passavam despercebidas. Uma criança rindo enquanto corria atrás de um drone colorido, um casal dançando ao som de uma música invisível, um grupo de amigos compartilhando histórias em uma esquina iluminada por luzes neon.
Cada momento parecia carregado de significado, como se a cidade estivesse sussurrando segredos em seus ouvidos. Ele passou pela florista novamente, e a mulher sorriu ao vê-lo.
— Como está a flor? — perguntou ela, seus olhos brilhando com curiosidade.
Olhou para a flor eletrônica em sua mão, que agora pulsava em um verde suave, refletindo sua nova perspectiva de esperança e possibilidade.
— Está linda — respondeu ele. — Obrigado.
Continuou seu caminho, sentindo-se mais leve, mais conectado com a cidade e consigo mesmo. Sabia que haveriam desafios, momentos de dúvida e incerteza, mas também sabia que cada experiência era uma oportunidade de crescimento e descoberta.
A noite avançava, e as luzes da cidade se tornavam ainda mais vibrantes. Encontrou um café aconchegante, onde entrou e pediu uma xícara de chá. Sentou-se junto à janela, observando as pessoas passarem. Em cada rosto, ele via uma história, uma possibilidade, uma conexão.
Entendeu que a verdadeira magia da cidade estava na sua capacidade de transformar o ordinário em extraordinário, o estranho em familiar. E ele fazia parte dessa magia, um fio entrelaçado no vasto tapete da vida urbana.
Enquanto terminava seu chá, sentiu uma paz profunda. Sabia que sua jornada estava apenas começando, que havia muito mais a explorar e descobrir. Mas, por enquanto, ele estava contente em simplesmente estar presente, em apreciar a beleza e a estranheza do mundo ao seu redor.
Levantou-se, pagou sua conta e saiu para a noite iluminada. Caminhou sem destino, aberto a todas as possibilidades que a cidade poderia oferecer. E, enquanto se perdia nas ruas, encontrou a si mesmo, um passo de cada vez, em um mundo onde o estranho e o familiar se encontravam em perfeita harmonia.
Assim, continuou a viver sua história, um conto de realismo fantástico em um cenário neo-surrealista futurista, onde cada dia trazia novas descobertas e a promessa de um futuro cheio de maravilhas. E ele sabia que, não importa o quão estranha a vida pudesse parecer, sempre haveria beleza e magia esperando para ser descoberta.
Renato Pittas
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