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Cowboys do more dope (Ponto “G”)

Cowboys do more dope (Ponto “G”)

Às 20h30, a cidade de Haven, envolta em um manto de néon e ciberfumaça, parecia um organismo vivo, respirando através de suas ruas sujas e becos estreitos. Aqui, nas profundezas de uma metrópole, as almas perdidas se misturavam com os sonhos despedaçados, criando uma sinfonia de desesperança e resistência.
No coração desse caos, existia um lugar conhecido apenas como “Ponto G”. Não era um bordel, tampouco uma boate; era um refúgio para aqueles que buscavam mais do que a realidade oferecia. Ali, os “Cowboys do More Dope”, uma gangue de hackers e poetas marginais, conspiravam para derrubar a ordem estabelecida e encontrar uma centelha de liberdade nas sombras da opressão tecnológica.
Entre as ruínas do concreto e o limo das novidades obsoletas, o marasmo tomava conta. As fachadas piscavam, refletindo anúncios holográficos de produtos inúteis, enquanto a vida continuava, lenta e indiferente. A uma mesa no fundo do Ponto G, O, líder dos Cowboys, observava a multidão. Ninguém havia dito uma palavra ainda, ninguém sabia quem era a bola da vez.
Segurava um taco de sinuca, girando-o entre os dedos, enquanto seus olhos seguiam a trajetória de uma bola que parecia descrever o caos do Big Bang em miniatura. “Qualquer coisa entre o taco, a bola e o caos”, pensou. Amanhã, ao meio-dia e meio, no miserável curral eleitoral da política local, tudo se revelaria. Mas seriam apenas notas de um real ou moedas tilintando no mármore do balcão dos famintos?
Nada de filet au poivre, apenas a poesia efêmera como o poeta, rotineiro em suas meias palavras e redundante na temática marginal. Seria a poesia ou a pretensão de poetar? Sorria, meio que desprezando a própria dúvida. “Ah, num phode”, murmurou, “quero só fazer hakais, meio versos…”.

As telas ao redor do Ponto G exibiam proporções variadas: 4:3, 16:9, 2.35:1. Meio poesia, meio caminho para porra nenhuma, entre o é e o seu é. Simplório como afirmar-se “sick like a Tom Waits song”. Quem não quer falar nada, fica quieto disfarçando a dor de rir-se.
“É poesia?”, perguntou-se, enquanto seus olhos captavam um verso torto nas sombras. “Uma palavra pode valer mais do que qualquer coisa. Ou menos do que ser alguma coisa, imaginada.” Naquele momento, palavra valia uma só palavra e aí? Valer-se de que? O que é a vida senão vestir-se do custo do amor? Mais de meio caminho andado e ainda não chegamos a lugar algum. Onde levarão essas arqueologias? Onde levarão essas crenças primitivas? Sabe-se lá, não entendemos o mundo.
O bartender, um andróide de meia-vida, servia doses de uma lasanha empanada, metáfora gastronômica de corpos mortos que não contavam histórias, mas davam bons assados. Música de cowboys tocava ao fundo, rodeios modernos que eram câmaras de tortura, como subempregos e falsas promessas de libertação da miséria.

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“Madre dulcíssima, salva minha anima!”, exclamou uma mulher na mesa ao lado, trocando olhares com ele. “Talvez amanhã eu troque de calcinha”, disse ela, desprezando a ideia de multi-orgasmos. Gozar, afinal, é não ter mais fome.
Nas entranhas do Ponto G, os Cowboys do More Dope planejavam seu próximo golpe. Hackeariam os sistemas eleitorais, implodiriam a ilusão de democracia com um verso afiado como uma lâmina. Na cidade onde o amanhã nunca chegava, ele sabia que a verdadeira revolução começava com uma simples palavra, um meio verso, uma fagulha de esperança.

E assim, entre a poesia e o caos, os Cowboys seguiam em frente, meio caminho andado, na eterna busca por liberdade em um mundo onde a realidade era apenas uma construção frágil, pronta para ser desconstruída.

Os Cowboys do More Dope reuniram-se em torno de uma mesa holográfica no fundo do Ponto G, iluminada por um brilho azul pálido que destacava seus rostos determinados. Com os olhos fixos na projeção de um mapa da cidade, gesticulava enquanto falava, delineando a operação que aconteceria ao amanhecer.

“Nossa missão é simples, mas precisa ser executada com precisão cirúrgica”, disse. “Vamos invadir os principais servidores eleitorais e substituir os dados por uma mensagem de liberdade. Mostraremos a todos que a democracia não passa de um espetáculo holográfico, uma ilusão controlada.”

Ao redor da mesa, os rostos dos Cowboys refletiam a determinação de uma revolução em curso. Entre eles, estava, uma hacker habilidosa e poeta de rua, conhecida por suas palavras afiadas e sua capacidade de se infiltrar em qualquer sistema. Ela olhou para ele e acenou afirmativamente.

“Estamos prontos”, disse, ajustando seus óculos de realidade aumentada. “Temos os algoritmos necessários e nossas frases estão preparadas. Vamos transformar a linguagem da opressão em um grito de resistência.”
Enquanto o grupo finalizava os detalhes, a cidade de Haven continuava sua rotina frenética. As ruas eram um mar de neón, repleto de indivíduos apressados, tentando sobreviver à selva urbana. Em um dos telões, uma propaganda política exibia promessas vazias, alimentando a ilusão de escolha.
Às 23h45, os Cowboys do More Dope deixaram o Ponto G em direção à central de dados. Suas silhuetas se moviam como sombras, invisíveis para as câmeras de segurança e drones patrulheiros. Zaraa poeta liderava o caminho, guiando o grupo por becos e passagens subterrâneas que apenas os conhecedores da cidade conheciam.

Ao chegarem ao destino, encontraram a entrada fortemente guardada por andróides de segurança. Ele, com um sorriso confiante, deu o sinal para ela. Que ativou um dispositivo de pulso eletromagnético, desativando temporariamente os andróides e abrindo o caminho para o grupo.
Dentro da central de dados, o ambiente era frio e estéril, repleto de cabos e servidores que pulsavam com informações. Os Cowboys se espalharam, cada um assumindo uma posição crucial. Ela conectou seu terminal portátil a um dos servidores principais e começou a digitar freneticamente.

“Estamos dentro”, anunciou ela. “Agora, a magia acontece.”

Ele observava enquanto as linhas de código fluíam na tela dela, substituindo dados eleitorais por versos de resistência e verdade. Em poucos minutos, a operação estava concluída. A mensagem dos Cowboys do More Dope estava gravada nos sistemas, pronta para ser revelada ao amanhecer.
Ao saírem da central de dados, os Cowboys retornaram ao Ponto G, onde aguardariam o resultado de sua intervenção. A ansiedade e a expectativa pairavam no ar, mas também havia uma sensação palpável de esperança.

Quando o sol começou a despontar no horizonte, a cidade de Haven despertou para um novo dia. As telas espalhadas pela metrópole exibiram uma mensagem diferente: um poema coletivo que desafiava a ordem estabelecida, convidando os cidadãos a questionarem sua realidade.

Verso após verso, a mensagem dos Cowboys do More Dope ecoava pelas ruas:

“Liberdade não é um espetáculo de neón,
é a faísca que acende o espírito.
Erga-se contra as engrenagens da opressão.
Acredite no poder das palavras.

O amor é o custo da resistência.
Junte-se a nós,
e descubra o verdadeiro significado de ser livre.”

A reação foi imediata. As pessoas nas ruas paravam para ler, refletir e se conectar com o sentimento de revolta. Os Cowboys do More Dope sabiam que aquela era apenas a primeira faísca de uma revolução maior, uma mudança que começava com uma palavra, um verso, uma ideia.

Assim, no coração de Haven, entre a poesia e o caos, a verdadeira liberdade começou a florescer, iluminando a escuridão com a luz da resistência.
À medida que a mensagem dos Cowboys do More Dope se espalhava pela cidade, Haven começou a pulsar com uma energia renovada. O neón vibrante nas ruas agora parecia resplandecer com um propósito diferente, um brilho que emanava das almas despertas de seus habitantes.
Em um canto da cidade, em uma praça antes esquecida, formou-se um círculo de pessoas. Ali, a poesia ganhava vida de maneira orgânica, cada voz contribuindo com um verso, cada palavra um fragmento de resistência. A mensagem dos Cowboys havia se transformado em um movimento vivo, uma corrente de pensamentos e emoções que não podia ser contida.

Enquanto isso, no Ponto G,Eles observavam a transformação da cidade. O barulho das conversas, os murmúrios de esperança e os ecos de resistência reverberavam nas paredes. Sentados em silêncio, eles refletiam sobre o poder da palavra e a fragilidade da realidade.

“Não é apenas a mensagem”, disse ele, quebrando o silêncio. “É a mudança que provocamos dentro das pessoas. A percepção de que a realidade é moldável, de que podemos esculpi-la com nossas palavras e ações.”

Ela acenou, os olhos brilhando com um misto de satisfação e determinação. “A poesia é a arma mais poderosa. Ela desarma a opressão e planta sementes de liberdade nos corações e mentes. Estamos apenas começando.”
No centro da praça, uma jovem subiu em um pedestal improvisado, um holograma projetado em sua mão. Ela recitou um verso do poema dos Cowboys, sua voz ecoando com uma força que parecia transcender o espaço físico.

“A liberdade não é um conceito distante,
é o sopro de vida que compartilhamos.
Acorde do sono imposto,
e descubra a vastidão do ser.

A palavra é a chave para a revolução,
um portal para o infinito.
Erga-se,
e seja a mudança que deseja ver.

A resistência é uma dança,
uma melodia de esperança.
Unidos, somos imbatíveis.
Livre-se das correntes da conformidade.

A verdade é nossa arma.
A poesia, nosso escudo.
Cowboys do More Dope,
espalhem a faísca.

A revolução é agora,
e ela começa com você.
Gozar, é não ter mais fome! “

A cidade, uma vez subjugada pelo neón e pela ciberfumaça, agora respirava livremente, cada indivíduo um poeta, cada palavra um ato de resistência. Haven não era mais um simples organismo, mas uma constelação de consciências desperta, dançando na sinfonia da revolução.
Assim, entre o concreto e o néon, entre o taco e a bola, o Kaos do Big Bang se manifestava em uma nova forma de existência. As ruas pulsavam com vida e poesia, um lembrete constante de que a realidade é uma tela em branco, pronta para ser pintada com os sonhos de uma nova aurora.
A revolução dos Cowboys do More Dope não era um evento singular, mas um processo contínuo, uma transformação perpétua onde cada verso era um tijolo na construção de um mundo mais livre. A cidade de Haven, agora iluminada pela chama da resistência, tornou-se um farol de esperança em um universo de incertezas.

Assim, no meio do caos, na interseção entre o virtual e o real, a verdadeira essência da liberdade se revelava. A palavra era o começo, e o futuro, uma promessa infinita, pronta para ser escrita por aqueles que ousavam sonhar.

Renato Pittas   

Contato:[email protected]

https://sara-evil.blogspot.com

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