Cinco composições no Heavy Metal que falam sobre o Egito, sua história, cultura e mitologia
Iron Maiden – “Powerslave”
“Powerslave”, faixa título do clássico quinto álbum de estúdio do Iron Maiden, explora temas especialmente relacionados à crença na vida após a morte e na divindade dos faraós. O eu lírico, presumivelmente um faraó, enfrenta a inevitabilidade da morte, apesar de sua crença em sua própria divindade e imortalidade. Ele se vê como um escravo do poder, preso ao ciclo de vida e morte, mesmo sendo adorado como um deus na Terra. As referências ao “Olho de Hórus” e ao “Osíris ressuscitado” trazem à tona elementos mitológicos egípcios, que simbolizam a proteção divina e a ressurreição, reforçando a crença de que os faraós, após a morte, continuariam a viver em uma forma espiritual.
O conflito entre a mortalidade humana e a pretensão divina do faraó é um tema central na música. Embora ele tenha sido venerado como uma figura quase divina, a realidade de sua própria morte e a incerteza do que vem depois o consomem. O faraó percebe que, apesar de seu poder em vida, ele é impotente diante da morte. Essa dicotomia entre poder e impotência, entre vida e morte, reflete as complexas crenças egípcias sobre a imortalidade, onde o corpo físico precisava ser preservado e rituais precisavam ser seguidos para garantir a continuidade na vida após a morte.
Nile – “Unas, Slayer of the Gods”
“Unas Slayer of the Gods”, um épico de mais de 11 minutos de duração, presente no álbum “In Their Darkened Shrines” do Nile, retrata o faraó Unas como uma figura divina e temida, capaz de derrotar até mesmo os deuses. Unas, que foi um faraó histórico da Quinta Dinastia, é apresentado aqui como um ser que transcendeu a morte, absorvendo o poder e a imortalidade dos deuses ao devorá-los. A letra transmite o conceito de “Sekhem”, que na mitologia egípcia se refere à força vital ou poder divino, enfatizando que Unas se tornou a própria personificação desse poder supremo. Os elementos como o “Uraeus” (a serpente na testa dos faraós, símbolo de proteção e poder) e as referências a deuses como Orion e Khensu reforçam a imagem de Unas como um ser que ultrapassou a mortalidade, e subjugou as divindades, integrando sua sabedoria e poder.
Iced Earth – “Im-Ho-Tep”
“Im-Ho-Tep”, composição do Iced Earth presente no álbum “Horror Show”, de 2001, explora a lenda do antigo Egito envolvendo Imhotep, uma figura histórica real que foi posteriormente mitificada. Imhotep, um dos primeiros arquitetos e médicos do Egito Antigo, é apresentado como um sacerdote poderoso que, em sua busca pela imortalidade e pelo amor, comete um ato sacrílego ao tentar reviver alguém da morte, remetendo a história de Osíris e Ísis. A música aborda a crença egípcia na vida após a morte e o uso de textos sagrados para transcender a morte, mostrando Imhotep como um personagem trágico que, por sua obsessão, sofre uma maldição que o aprisiona por milhares de anos.
Dio – “Egypt (The Chains Are On)”
Trazendo uma perspectiva bíblica para a história do Egito, “Egypt (The Chains Are On)” clássica faixa de encerramento do não menos clássico “The Last in Line”, do mestre absoluto, Ronnie James Dio, apresenta uma metáfora que relaciona a antiga terra do Egito com a narrativa bíblica da escravidão dos israelitas, conforme descrita no livro do Êxodo. No contexto egípcio, a letra faz alusão ao período em que os israelitas viveram como escravos sob o domínio do faraó, uma época em que o Egito, descrito como uma “terra de leite e mel”, era ao mesmo tempo um lugar de grande opressão e sofrimento. A referência à “rainha escura e solitária” pode ser interpretada como uma metáfora para o Egito, uma nação outrora poderosa e rica em magia e sabedoria, mas que se tornou um símbolo de dominação e desespero, onde “as correntes estão em todos”. A imagem dos “estranhos” que chegam e a subsequente percepção de que “as correntes estavam postas” sugere o reconhecimento dos israelitas de sua condição de escravidão e a perda de sua liberdade.
A letra também reflete sobre a promessa de liberdade, um tema central na narrativa do Êxodo, onde Moisés lidera os israelitas para fora do Egito, rompendo as correntes da escravidão. A menção ao “andar sobre as águas” e “voar pelo céu” pode ser vista como uma referência aos milagres realizados durante a libertação dos israelitas, como a travessia do Mar Vermelho e outros sinais divinos que acompanhavam a fuga do Egito. No entanto, apesar dessas visões de liberdade e milagres, a canção enfatiza que “as correntes ainda estão postas”, possivelmente sugerindo que, mesmo após a libertação física, as cicatrizes emocionais e espirituais da escravidão permanecem.
Seventh Sign From Heaven – “Judgement of Egypt”
Ainda seguindo uma perspectiva bíblica do Egito, não podia faltar uma banda brasileira em nossa lista. A letra de “Judgement of Egypt” da Seventh Sign From Heaven apresenta o relato bíblico das pragas do Egito, conforme descrito no livro do Êxodo. A canção foca na interação entre Deus e o faraó, com Deus ordenando ao faraó que libertasse os israelitas para que eles pudessem adorá-lo. No entanto, o faraó endurece seu coração e ignora os avisos divinos, resultando na sequência de pragas que assolam o Egito. A letra descreve o endurecimento do coração do faraó e a subsequente devastação trazida por uma das pragas, a tempestade de granizo, que amedronta o povo e revela o poder de Deus, mas, ainda assim, não convence o faraó a libertar os escravos hebreus.
A canção culmina com a descrição da última e mais terrível praga: a morte dos primogênitos. Esta praga, conforme relatado na Bíblia, é o ponto de ruptura que finalmente leva o faraó a reconhecer a supremacia de Deus. O lamento e o grande clamor que se espalha por todo o Egito simbolizam o desespero e o sofrimento, levando o faraó a admitir que “o Senhor é o único”. A música captura a gravidade do julgamento divino sobre o Egito, ressaltando tanto a resistência obstinada do faraó quanto a inevitabilidade do poder de Deus, que culmina na libertação dos israelitas da escravidão.