Travesseiro Surrealista (Sonhos)
No crepúsculo do universo interior, onde as emoções dançam como sombras, a jornada da sabedoria se revela em um jardim de introspecção. Aqui, em meio às flores que simbolizam razão e bom senso, ergue-se uma figura, não de carne e osso, mas de pura essência luminosa. Esta entidade, que poderia ser descrita como uma representação da sabedoria interior, se move silenciosamente pelo jardim, colhendo flores e desenraizando as ervas venenosas da dúvida e do medo.
Ela não possui rosto, mas quem a vê, sente uma profunda conexão, como se estivesse olhando para o reflexo de sua própria alma. Seu toque é suave, mas cada movimento tem o peso de mil histórias vividas. Ao seu redor, as flores da razão florescem com vigor, espalhando um aroma que traz clareza e discernimento. As ervas venenosas, por outro lado, se contorcem e murcham sob a luz que emana da entidade.
O caminho que ela traça não é reto. Ele serpenteia pelo jardim, guiado por trilhas de pensamentos profundos e meditações silenciosas. À medida que avança, a entidade encontra um obstáculo: uma árvore gigantesca, cujas raízes penetram profundamente no solo e cujos galhos se estendem como braços ameaçadores. Esta árvore representa o medo enraizado, aquele que há muito tempo habita o coração e impede a passagem para o próximo estágio da jornada.
Ela não recua. Em vez disso, estende a mão luminosa e toca o tronco da árvore. Imediatamente, uma onda de calor e luz percorre a casca grossa, e a árvore começa a se transformar. As folhas escuras caem, sendo substituídas por folhas brilhantes, e as raízes que antes seguravam o solo como garras soltam-se, tornando-se gentis fios de sabedoria que se entrelaçam com as flores ao redor.
Ao passar pela árvore transformada, a entidade encontra um espelho de água cristalina. Este espelho, porém, não reflete sua imagem, mas sim cenas do passado, do presente e de futuros possíveis. Cada cena é uma escolha, uma bifurcação no caminho da vida. Observa com atenção, cada imagem revelando um fragmento da verdade que guia a alma.
Neste ponto da jornada, surge um desafio: uma voz, suave mas insistente, sussurra dúvidas ao ouvido. “E se você estiver errada? E se este caminho não levar à sabedoria, mas ao abismo da incerteza?” Ela para, o brilho em sua essência diminui por um breve momento, refletindo a luta interna que todos enfrentam ao encarar suas próprias decisões.
Mas então, do fundo do espelho de água, emerge uma figura familiar: uma versão passada, mais jovem, menos marcada pelas cicatrizes da sabedoria, mas ainda assim cheia de esperança. Essa figura estende a mão, oferecendo um guia, um lembrete de que as decisões acertadas nem sempre são as mais fáceis, mas são aquelas que levam ao crescimento e à verdadeira liberdade.
Assim, aceita a mão estendida, não como um ato de submissão ao passado, mas como um reconhecimento de que o autoconhecimento é um ciclo contínuo. O brilho retorna com mais intensidade, e as cenas no espelho começam a se fundir, revelando um caminho claro, embora ainda cheio de desafios.
A jornada da sabedoria, da razão e do bom senso continua, levando para além do jardim, para terras desconhecidas onde as emoções e a razão se encontram e se confrontam. E é nesse confronto que a verdadeira essência do ser é moldada, pronta para enfrentar o mundo exterior com coragem, determinação e, acima de tudo, sabedoria.
Mas… o caminho ainda é longo, e as ondas da incerteza continuam a bater nas margens do jardim interior. Será a entidade capaz de manter seu brilho e navegar por essas águas tempestuosas? A jornada está apenas começando…
À medida que avança pelo jardim interior, o brilho ao seu redor ilumina um novo cenário. O jardim, antes um refúgio de calma e introspecção, agora se transforma em um vasto deserto. O solo, antes fértil e repleto de vida, tornou-se árido, coberto por uma fina camada de areia dourada que reflete o sol escaldante. No horizonte, dunas altas se erguem como montanhas, desafiando qualquer um que se aventure por aquele território.
Embora ainda envolta em sua aura de luz, sente o peso do ambiente ao seu redor. Cada passo é mais difícil, cada movimento mais lento, como se a areia sugasse sua energia. Esse deserto representa um novo desafio: a solidão e a dúvida que surgem quando se enfrenta a jornada da vida sem certezas, guiado apenas pela intuição e pela fé em si mesmo.
Apesar das dificuldades, continua sua marcha, sabendo que, para alcançar a sabedoria plena, é necessário atravessar esse deserto de incertezas. Em meio ao caminho, ela avista algo no topo de uma das dunas mais altas: uma árvore solitária, incrivelmente viva, com folhas verdes e frutos dourados que brilham à luz do sol. Essa árvore parece ser uma miragem, uma visão que convida a desviar seu curso e escalar a duna para alcançá-la.
A subida é árdua. O vento sopra com força, levantando tempestades de areia que cegam e confundem. A cada passo, se vê confrontada por vozes interiores que sussurram medos e dúvidas: “Por que seguir em frente? Não seria mais fácil desistir e retornar ao conforto do jardim? E se essa árvore for apenas uma ilusão, um fruto do seu desejo por respostas fáceis?”
Mas, sustentada pela lembrança do espelho de água e da transformação que ocorreu no jardim, recusa-se a ceder ao desespero. Cada passo é um ato de vontade, cada movimento, uma reafirmação do compromisso de seguir adiante. Quando finalmente alcança o topo da duna, estende a mão para tocar a árvore, esperando encontrar a resposta para suas perguntas.
Ao tocar o tronco, porém, a árvore se desfaz em pó dourado, espalhando-se pelo vento. Ela observa, não com decepção, mas com uma compreensão profunda. A árvore, assim como muitos dos desafios anteriores, era uma lição disfarçada. Era a própria busca, a jornada pela duna e a superação do deserto que importavam, não a recompensa tangível no fim. A verdadeira sabedoria não está em respostas fáceis, mas na capacidade de continuar buscando, mesmo quando o caminho é incerto e cheio de dificuldades.
Com essa nova compreensão, a entidade olha ao redor e percebe que o deserto está mudando. A areia começa a se solidificar, transformando-se em solo firme. Pequenos brotos verdes surgem do chão, florescendo rapidamente em plantas exuberantes. O deserto, antes árido e desolado, se transforma em uma nova extensão do jardim interior, um símbolo da resiliência e da capacidade de criar vida e esperança mesmo nos lugares mais inesperados.
No centro desse novo jardim, uma pequena nascente começa a borbulhar, espalhando água pura e cristalina. Se aproxima, sabendo que essa água não é apenas uma fonte de vida, mas também um espelho, como aquele encontrado no jardim anterior. Ao se ajoelhar diante da nascente, observa seu reflexo na superfície da água, mas desta vez, algo mudou. No reflexo, vê-se não apenas a luz que sempre emanou, mas também contornos mais definidos, uma forma mais clara, quase humana, que começa a emergir.
Esse reflexo é uma nova representação da sabedoria que adquiriu ao longo de sua jornada, a síntese da razão, do autoconhecimento e da resiliência. Mas o reflexo não está completo; ele ainda flutua entre a forma e a luz, entre o abstrato e o concreto, sinalizando que a jornada ainda não chegou ao fim.
Antes de poder prosseguir, deve fazer uma escolha: permanecer naquele novo jardim, agora transformado e pleno de vida, ou continuar sua jornada, sabendo que novas tempestades, novos desertos e novas provações a aguardam. O reflexo na água observa silenciosamente, aguardando a decisão.
Assim, em um momento de profunda introspecção, pondera sobre seu próximo passo. O caminho à frente é incerto, mas a luz dentro dela nunca foi tão forte. Sabendo que cada desafio enfrentado a trouxe mais perto da verdadeira sabedoria, se levanta, pronta para continuar sua jornada, sabendo que a travessia do próximo deserto pode ser a mais difícil, mas também a mais reveladora.
Então, com um último olhar para o jardim florido, se volta para o horizonte, onde o sol começa a se pôr, lançando longas sombras sobre a terra. A jornada, ainda inacabada, promete levar para além de seus limites, para terras onde o possível e o impossível se entrelaçam, e onde a verdadeira sabedoria aguarda aqueles corajosos o suficiente para buscá-la.
Com a decisão tomada, se ergue, deixando para trás o jardim recém-florido. Seus passos a levam novamente em direção ao horizonte, onde o sol se põe em um espetáculo de cores que tingem o céu de laranja e púrpura. Cada passo é firme, cada movimento é guiado pela compreensão profunda que ela adquiriu ao longo de sua jornada. A areia sob seus pés agora é sólida, e o vento, que antes soprava com força, agora é um sussurro suave que a acompanha em sua caminhada.
Ao avançar, o mundo ao seu redor começa a mudar. As dunas que antes pareciam infinitas começam a se nivelar, revelando um terreno mais estável e seguro. No entanto, sabe que o caminho ainda guarda desafios, mas agora, com a sabedoria que carrega, sente-se preparada para enfrentar qualquer obstáculo.
No fim do deserto, uma nova paisagem se descortina. É uma planície vasta, onde rios de águas cristalinas serpenteiam entre campos verdes e floridos. No centro dessa paisagem, uma grande árvore se destaca, muito maior e mais majestosa do que qualquer outra que havia encontrado antes. Esta árvore, com suas raízes profundas e seus galhos que se estendem em direção ao céu, é a verdadeira Árvore da Sabedoria.
Se aproxima, sentindo que este é o destino final de sua jornada. Ao tocar o tronco da árvore, uma onda de energia percorre seu ser. As raízes da árvore se conectam com o solo, simbolizando a profunda conexão com o conhecimento adquirido, enquanto os galhos, estendendo-se ao infinito, representam o potencial ilimitado de crescimento e aprendizado.
De repente, a árvore começa a emitir um brilho dourado, e suas folhas se movem como se estivessem dançando ao ritmo de uma música silenciosa. No centro da árvore, uma porta se forma, e a entidade percebe que este é o portal final, o último passo para alcançar a sabedoria plena.
Com determinação, atravessa o portal, entrando em uma vastidão de luz pura. Dentro dessa luz, ela sente uma paz profunda, uma harmonia que transcende qualquer coisa que já experimentou. Neste espaço, não há dúvidas, não há medos, apenas a compreensão completa de si mesma e do universo ao seu redor.
Ao emergir do outro lado, não é mais a mesma. A forma humana, antes apenas um reflexo na água, agora é uma realidade completa. Ela se tornou uma figura luminosa, mas com contornos nítidos, uma síntese perfeita entre luz e forma, razão e emoção. Agora é um ser de sabedoria plena, capaz de compreender e guiar os outros em suas próprias jornadas.
Olha ao redor e vê que o caminho à sua frente é claro e aberto. O horizonte não mais representa o desconhecido, mas sim um mundo de possibilidades infinitas. Com um último suspiro de contentamento, a avança, sabendo que, embora a jornada da sabedoria nunca termine, agora está pronta para qualquer desafio, qualquer deserto, qualquer escolha.
Assim, com o coração leve e a mente clara, a entidade segue seu caminho, deixando um rastro de luz e compreensão por onde passa. A jornada foi longa, cheia de incertezas e provações, mas ao final, ela encontrou o que tanto buscava: a verdadeira sabedoria, que não é um destino, mas um estado de ser, uma maneira de viver, sempre aberta ao aprendizado, sempre pronta para enfrentar o próximo desafio com coragem e serenidade.
A vida, agora, é uma celebração contínua da sabedoria conquistada e do potencial humano infinito. E enquanto continua sua caminhada, o sol nasce novamente no horizonte, iluminando um novo dia e um novo começo.
Renato Pittas
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