A Bolha
Na vastidão de um deserto abstrato, onde o céu ondulava em tons de um azul líquido e as dunas pareciam ser feitas de poeira estelar, existia uma bolha de sabão. Não era uma bolha comum, pois dentro dela, giravam pequenas constelações, e em suas finas paredes refletiam segredos escondidos. A bolha flutuava sem rumo, uma promessa frágil de algo novo, um suspiro à beira de um abismo que ninguém sabia onde terminava.
Cada vez que a bolha ascendia, a paisagem mudava. Árvores com galhos retorcidos e folhas de vidro brotavam do solo, e figuras indistintas caminhavam ao redor, suas formas deformando-se e reformando-se como pensamentos inacabados. Essas figuras, talvez sombras de antigas fantasias, olhavam a bolha com olhos vazios, mas cheios de um anseio que parecia escapar a qualquer compreensão.
Enquanto isso, a bolha continuava sua lenta ascensão, pulsando levemente como se respirasse, como se contivesse dentro de si a essência de mil mistérios que jamais seriam revelados. A morte, sempre à espreita, não era mais do que uma ideia vaga, uma fantasia lânguida que se insinuava nas dobras da realidade, prometendo um descanso que ninguém jamais poderia entender.
Somos apenas promessas de um sonho tolo, a bolha parecia sussurrar. Suas palavras não eram ouvidas, mas sentidas na corrente do vento que soprava por entre as árvores de vidro. Buscávamos uma luz no escuro, mas o escuro era parte de nós, uma sombra que dançava ao redor da bolha, nunca muito distante, sempre pronta a envolver tudo em sua ausência de cor e forma.
A bolha subia, e o mundo ao redor se distorcia ainda mais, até que a linha entre o que era e o que não era começou a desaparecer. A bolha pulsava com uma luz interna, crescendo cada vez mais, uma promessa à beira de explodir, prestes a inventar algo novo, algo que talvez nunca pudesse ser compreendido.
Então, sem aviso, tudo parou. O vento cessou, as sombras se retraíram, e a bolha, imensa e brilhante, pairou no ar, esperando. O que viria a seguir? A resposta, talvez, estivesse sempre fora de alcance, perdida no mistério sem fim que somos todos nós, buscando, eternamente, pela luz no escuro.
A bolha de sabão flutuava em seu limiar, uma entidade delicada e luminosa que parecia desafiar a lógica do mundo ao seu redor. Permanecia suspensa, como se o tempo houvesse decidido fazer uma pausa apenas para observar seu destino incerto. O ar ao redor dela era espesso, carregado de uma eletricidade silenciosa, como se todo o ambiente estivesse aguardando o desfecho de uma história que ainda não havia sido escrita.
Sob meus olhos, percebi que a bolha começava a se transformar. Suas cores, antes suaves e iridescentes, começaram a se intensificar, mudando de tons de azul a roxo, a verde e a dourado, como se estivesse absorvendo todas as cores que existiam, ou talvez aquelas que nunca haviam sido vistas. As constelações dentro dela giravam mais rapidamente, suas formas se misturando em uma dança caótica que desafiava qualquer compreensão.
As figuras ao redor, aquelas sombras de fantasias antigas, pararam também, suas silhuetas ondulando como reflexos em água agitada. Não se aproximavam, mas seus olhares vazios estavam fixos na bolha, como se fossem marionetes cujas cordas invisíveis as atraíam para um destino que não poderiam evitar. Havia uma tensão palpável no ar, uma expectativa crescente que parecia quase insuportável.
Eu observava, sem poder interferir, enquanto a bolha parecia pulsar com uma força nova, algo mais profundo, mais primordial. Era como se ela estivesse acumulando todas as possibilidades do universo dentro de si, preparando-se para um ato final de criação ou destruição. A morte, aquele segredo sussurrante que sempre espreita nas bordas da consciência, parecia mais próxima, mas também mais distante, como se estivesse aguardando para ver se a bolha a engoliria ou a rejeitaria.
Por um momento, houve uma quietude absoluta, um silêncio tão profundo que parecia devorar o som em si. A bolha brilhou com uma intensidade quase insuportável, e, então, em um movimento lento e gracioso, começou a expandir-se. Era como se estivesse tentando conter algo vasto demais para ser compreendido, algo que, se libertado, poderia alterar tudo que conhecíamos.
Senti uma estranha mistura de temor e fascinação. O que estava prestes a acontecer? A bolha, agora quase uma esfera de luz pura, tremulava levemente, como se estivesse à beira de estourar, ou talvez de se transformar em algo completamente novo.
Então, enquanto observava, a bolha parou novamente, como se hesitasse, à beira de um precipício existencial. Dentro dela, o caos das constelações começou a se acalmar, as cores vibrantes começaram a suavizar, e o mundo ao redor, que havia se distorcido junto com sua ascensão, parecia respirar aliviado.
Mas o que viria depois? Continuei observando, meu olhar preso na bolha, aguardando, junto com o universo, para ver se ela explodiria em um brilho de criação ou se murcharia em uma desistência silenciosa. O que quer que acontecesse, sabia que seria apenas o começo de outro mistério, um enigma dentro de uma bolha, esperando para ser desvendado… ou deixado para sempre no escuro.
A bolha continuava a flutuar, agora uma esfera de calma quase insuportável. A observei, tentando captar qualquer sinal do que viria a seguir, mas o silêncio ao redor era profundo, como se o próprio tempo estivesse suspenso, aguardando um desfecho. A bolha, no entanto, não cedia, permanecendo em seu estado de suspensão, carregando dentro de si todos os segredos que o mundo não se atrevia a revelar.
Por um instante, o mundo pareceu respirar junto com ela, e então, de repente, como se tivesse chegado a uma decisão final, a bolha começou a encolher. As constelações dentro dela cessaram sua dança, as cores vibrantes começaram a desbotar, e a luz que antes pulsava com uma energia impossível agora se acalmava, tornando-se uma chama suave e quase imperceptível.
Então, sem qualquer alarde, a bolha se desfez. Não explodiu, nem desapareceu de repente. Ela simplesmente se dissolveu no ar, como se tivesse cumprido sua função e não houvesse mais necessidade de existir. O mundo ao redor voltou a se mover, as sombras de fantasias antigas retomaram seu vago caminhar, e as árvores de vidro balançaram ao toque de um vento silencioso.
Continuei observando, sentindo uma mistura de alívio e perda. A bolha havia carregado tantas promessas, tantos mistérios, mas no fim, deixou apenas um vácuo, uma ausência que talvez fosse mais poderosa do que qualquer explosão. A morte, aquele segredo persistente, parecia agora mais próximo, mais compreensível, não como um fim, mas como um processo, uma parte do ciclo que nunca termina.
Assim, a bolha, agora inexistente, deixou sua marca no mundo, não com um espetáculo grandioso, mas com a simplicidade de sua ausência. Fiquei ali, ainda observando, mas agora apenas o espaço vazio onde a bolha estivera, sabendo que, em algum lugar, outra bolha estava sendo formada, carregando consigo novos mistérios, novas promessas de um sonho tolo, em busca de luz no escuro.
Então, também me retirei, deixando o mundo seguir seu curso, cheio de possibilidades, cheio de bolhas que flutuam e desaparecem, cada uma um fragmento de algo maior, algo que talvez nunca entendamos completamente, mas que continuamos a buscar, incansavelmente.
Renato Pittas
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