A poder elemental das águas na música “Sound of Rain”, do Terra
“Hypercube” é o excelente álbum de estreia do projeto Terra, liderado pelo músico, compositor e multi instrumentista, Lucas Barbosa, que transforma suas canções numa espécie de diário de viagem, através do qual relata suas experiências e suas relações com as culturas dos vários países por onde passou.
Dentre as canções do disco, hoje destacamos “Sound of Rain”, a sexta faixa do álbum, para abordarmos um de seus temas, a mitologia, o poder imensurável das águas e seu aspecto transitivo.
Ouça a música abaixo:
“Sound of Rain” nos carrega por reflexões sobre aquele momento em que absorvemos todo o aprendizado do trajeto que nos trouxe até o ponto onde estamos nesse exato momento, e as experiências e feitos que acumulamos durante esse processo, funcionando como uma espécie de transição, onde até mesmo a sonoridade da música reflete uma atmosfera de descanso e internalização, com uma construção melódica e rítmica que cresce lentamente e corre calmamente como as águas de um rio manso e profundo. O elemento principal que simboliza toda essa atmosfera é a água, que em várias culturas funciona como um meio de transição.
“I lay down, look and see. Flying leaves. Sunsets and wind blows. I breathe the breeze. From the distance, to thunder roars announcing the storm”.
Na mitologia grega, Caronte é o barqueiro de Hades, que carrega as almas dos mortos sobre as águas do rio Estige e Aqueronte, que dividiam o mundo dos vivos do mundo dos mortos. Uma moeda para pagá-lo pelo trajeto, geralmente um óbolo ou dânaca, era por vezes colocado dentro ou sobre a boca dos cadáveres, de acordo com a tradição funerária da Grécia Antiga. Diz-se que aqueles que não tinham condições de pagar a quantia, ou aqueles cujos corpos não haviam sido enterrados, tinham de vagar pelas margens por cem anos.
“Crossed legs, I lay my hand. I stiff my back. A smile slips out with. Cold rush of air”.
No conto “Auto da Barca do Inferno”, de Gil Vicente, um clássico da literatura portuguesa, o cenário desta obra é um porto onde se encontram duas barcas, uma leva ao inferno e a outra ao paraíso, uma guiada por um diabo e a outra por um anjo.
“Drifting off from my senses. Flashes of light all around. Diving into myself and. All I hear is the sound of rain. Throughout my way”.
Neste contexto todo, Lucas Barbosa utilizou o som da Moringa, que originalmente é um recipiente para carregar água, mas passou a ser utilizado como instrumento, justamente para representar a água e toda a sua simbologia.
A moringa é um instrumento de percussão de origem africana criado pelos povos ibos e hauçás da Nigéria. Na sua língua natural, udu significa “paz” ou “vasilha”. Para todos os efeitos, trata-se de uma peça de cerâmica tradicionalmente utilizada para o transporte de água com a adição de um buraco na barriga, fabricado com argila ou esculpido em pedra. Era tocado por mulheres nas cerimónias especiais. O instrumento é tocado com as mãos e produz um som grave com um registo de certa forma peculiar ao ser golpeado rapidamente no bocal superior, embora também se possa tocar em todo o corpo do instrumento com os dedos.
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