Cinco músicas do Metal Nacional que encaram de frente os problemas do mundo contemporâneo
Em meio a um cenário social cada vez mais turbulento e marcado por transformações profundas, o Metal Nacional

Segue se apresentando como uma poderosa ferramenta de expressão e resistência, com composições capazes de abordar com sensibilidade, raiva ou lucidez temas que atravessam a realidade contemporânea — como crises sociais, existenciais, políticas e ambientais. Com um olhar afiado e engajado, diversos artistas brasileiros têm usado a música pesada como linguagem para questionar, provocar e, acima de tudo, refletir.
Essa matéria reúne cinco músicas que exemplificam o quanto o Metal feito no Brasil tem sido relevante não apenas do ponto de vista estético, mas também filosófico e crítico.
Eskröta - "Instagramável"
Em "Instagramável", a Eskröta entrega uma crítica poderosa à cultura da aparência e à lógica do consumo imediato que rege as redes sociais. Com uma letra que escancara a artificialidade do estilo de vida vendido no ambiente digital, a música questiona a busca incessante por validação, beleza idealizada e status social — tudo embalado sob o filtro do "instagramável". A ansiedade por pertencer e a frustração gerada pela comparação constante se transformam aqui em um grito de alerta: vivemos rodeados por promessas vazias, produtos com prazo de validade emocional e identidades que se moldam ao que é vendável.
Black Pantera - "Fogo nos Racistas"
"Fogo nos Racistas", do clássico contemporâneo do Black Pantera, "Ascensão", de 2022, é um hino de resistência e enfrentamento direto ao racismo estrutural e às violências históricas sofridas pela população negra no Brasil. Com versos incisivos, a letra afirma a própria existência preta como uma forma de confronto, por desafiar uma ordem racista que não tolera ver negros em posição de destaque. Referências culturais como Django Livre, Luis Gama, Afro Samurais e Wakanda reforçam o orgulho ancestral e a força coletiva, construindo uma identidade preta combativa e empoderada. O "fogo" pode ser entendido de forma literal, ou como uma metáfora para a chamada à ação: denunciar, expor e resistir.
Muqueta na Oreia - "Queima"
A faixa "Queima", da banda Muqueta na Oreia, é um protesto urgente contra a destruição ambiental no Brasil. Com uma abordagem direta e combativa, a música denuncia as queimadas, o desmatamento e o massacre de povos originários e da fauna nativa, revelando a face cruel do descaso ambiental. A letra utiliza imagens fortes — como o "sangue seco" e o "sol vermelho" — para transmitir a gravidade da crise climática que transforma o verde do país em cinzas. A crítica é clara ao apontar os responsáveis históricos e políticos, enquanto também conclama à união e ao respeito como única alternativa à extinção.
AnamA - "Death Clock"
"Death Clock", single mais recente da AnamA, é um retrato doloroso da realidade do feminicídio e da violência doméstica. A canção parte de uma narrativa pessoal para abordar uma tragédia coletiva, dando voz a uma vítima que, entre a decepção e o desespero, enfrenta a destruição física e emocional causada por quem prometeu amor eterno. O "relógio da morte" simboliza a contagem regressiva para o fim, não apenas de uma relação, mas da vida da personagem, e ecoa a urgência do problema enfrentado diariamente por milhares de mulheres. A música denuncia, emociona e alerta: o amor que mata não é amor — é controle, abuso e violência.
Attanos - "Your Fortress"
"Your Fortress", faixa de abertura do álbum mais recente da banda paulista, Attanos, é um verdadeiro hino de resistência emocional em tempos de colapso psíquico e social. A canção fala diretamente com aqueles que enfrentam a depressão, oferecendo uma mensagem de esperança e reconstrução por meio da conexão humana, da autocompreensão e da perseverança, incentivando o ouvinte a dar pequenos passos diários em direção à liberdade interior, construindo força a partir das próprias cicatrizes. Ao afirmar que o medo tem fim e que o passado pode ser libertado, a faixa propõe uma ressignificação do sofrimento: transformar a dor em uma "fortaleza" — um espaço simbólico de resistência, apoio mútuo e transformação.
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