Entrevista com Henrique Pucci, baterista das bandas Noturnall, Escombro, Cultura Tres e Marabô
influentes do Rock e Heavy Metal brasileiro na atualidade.

Henrique Pucci é, sem dúvida, um dos bateristas mais talentosos e influentes do Rock e Heavy Metal brasileiro na atualidade. Sua carreira ganhou destaque nacional ao integrar o Project46, mas foi com o Noturnall que ele conquistou o mundo, tocando em diversos continentes e levando o nome do Metal brasileiro a inúmeros países. Atualmente em turnê com o Noturnall ao lado de Edu Falaschi, Pucci nos concedeu alguns minutos de seu precioso tempo para falar sobre sua trajetória e suas bandas atuais: Noturnall, Escombro, Cultura Tres e Marabô.
Rádio A.S. Brazil: Antes de mais nada, obrigado pela gentileza e disponibilidade em atender à equipe da Rádio AS Brazil, especialmente em um momento tão intenso da sua carreira. Seu trabalho com o Project46, entre 2011 e 2016, projetou seu nome para outro patamar no cenário nacional. Como você enxerga aquela fase hoje, olhando em retrospecto? Ficaram mágoas ou apenas boas lembranças da projeção que a banda trouxe?
Pucci: Agradeço primeiramente a atenção e o convite para a entrevista. As mágoas escrevi na areia e as boas lembranças no mármore, hehe. Nos reunimos recentemente e falei que coisas ruins todas as bandas vivem. Agora, o que fizemos de bom, poucas bandas fizeram. Sou muito grato por esse período. Está escrito na história, ninguém pode apagar. Foi o melhor momento da banda. E depois dali, fiz coisas que não teria feito com o Project46, como essa tour pela Ásia, turnês na Europa e essa tour com o Edu Falaschi, com condições melhores de trabalho, sem ter o peso de ter que administrar, ter as rédeas nas mãos. Nesse sentido, foi positivo. Fora o clima nas bandas que toco hoje: super tranquilo, leve e positivo. Não há mais espaço para mágoas. Inclusive fui no show de retorno da banda na Áudio, sem saber o que sentiria, e me senti muito bem. Foi uma celebração e gratidão pelo trabalho que fizemos.
Rádio A.S. Brazil: Recentemente, você foi anunciado como o novo baterista do Cultura Tres. Como surgiu esse convite e como tem sido a experiência de integrar uma banda com essa trajetória internacional e sonoridade tão única?
Pucci: Tocamos juntos na tour com os Cavaleras em Vila Velha-ES, e ajudei eles no que precisavam. O Alejandro me disse depois que o fato de eu ser de outra banda e ir ajudá-los (a concorrência, como ele disse) contou muito. Mas ele também falou que nossa concorrência era o sertanejo e o celular, hehe. Depois disso, fiz o som pra eles no Tropical Butantã, abrindo para o Dimmu Borgir. Mais recentemente, fiz o som pra eles no Summer Breeze Brazil e ele fez o som para o Noturnall. Somos dois músicos produtores. E aí, quando precisaram substituir o baterista, o Alejandro me convidou. Por gostar muito do som da banda, aceitei na hora. Abrimos o show do Sepultura para 8 mil pessoas, começando com um mini solo de bateria na primeira música. Depois veio a gravação do disco em Amsterdã e, na sequência, uma tour pela Inglaterra. Lançamos uma música com o Juanes e estamos para lançar o resto do álbum, que tem 10 músicas. O processo de gravação deixou a banda mais entrosada e a turnê foi um sucesso, com metade dos shows esgotados e uma ótima aceitação do público e da crítica.
Rádio A.S. Brazil: Você também está em mais uma etapa da turnê nacional com o Noturnall ao lado de Edu Falaschi. Essa turnê do Noturnall, que já passou por diversos países, ainda vai chegar a destinos como China, Japão, Vietnã, Camboja e Tailândia. Como tem sido rodar o mundo com o Heavy Metal?
Pucci: Primeiramente, foi inesperado. O Thiago Bianchi é um trabalhador incansável, sempre em busca de atividades para o Noturnall. Temos um time disposto a colocar tempo e dedicação nessas aventuras. A turnê acontece na melhor condição possível, inclusive estou no ônibus chegando em Porto Alegre-RS enquanto respondo essa entrevista. Eu durmo muito bem nas viagens, o ônibus parece um berço, bem melhor que viajar de avião, quando mal conseguimos dormir e ainda é difícil levar os equipamentos. Tenho um ótimo drum tech, o Pixote, e nem precisamos passar o som. Viajamos com a mesma equipe e equipamentos, o que nos permite entregar o show com a qualidade que o Metal exige.
Rádio A.S. Brazil: Que aprendizados e experiências esse tipo de vivência proporciona?
Pucci: O que mais gosto nas turnês é conhecer a cultura local, conversar com as pessoas, sair para comer e, quando dá, visitar alguns lugares. É muito interessante ter esse contato olho no olho com os metaleiros do mundo, e tocar. É isso que uma banda de Metal nasceu pra fazer. Mas, ainda assim, acho as turnês no Brasil as melhores. O público brasileiro é muito foda.
Rádio A.S. Brazil: Sem dúvida, com o Noturnall você tem vivido algumas das experiências mais inusitadas da sua carreira, como tocar bateria de cabeça para baixo e participar de videoclipes com produções cinematográficas. De onde surgem essas ideias e como você encara esses desafios?
Pucci: Geralmente vêm da cabeça inquieta do Sr. Thiago Bianchi. Meu papel é topar as ideias e dizer "você é louco, bora!". É muito bom ter encontrado esse espírito na banda. A gente percebe que o Metal não é só música, é atitude, é diversão, é criar coisas que não existiam antes. É fazer história, construir momentos e um lugar onde você pode ser livre. E isso geralmente acontece quando um maluco encontra outro maluco.
Rádio A.S. Brazil: Já com o Escombro, uma banda com outra proposta estética e sonora, você lançou recentemente o EP "Vida Vazia". Como tem sido a recepção desse trabalho e quais os próximos passos previstos com a banda?
Pucci: Me surpreendi com a resposta. Antes de entrar na banda, já tinha ido a alguns shows e curtia muito. Achava diferenciado, com um vocal bem inteligível. Tenho raízes no hardcore, que me ensinou muito e pelo qual sou muito grato. O mosh é mais nervoso e intenso. Revi muitos amigos e confraternizamos. Na festa de lançamento, me surpreendi com a galera que apareceu em plena terça-feira. Tenho notado uma ótima aceitação do EP, que além de tocar, também produzi com a banda. Gosto muito da proposta do som do Escombro. Procurei deixar os grooves mais arrastados, mesmo quando a palhetada é rápida, trazendo uma vibe mais beatdown, que tem muito a ver com a banda. Na produção, procurei deixar o vocal bem nítido, mesmo sem estar alto.
Rádio A.S. Brazil: Por fim, com o Marabô vocês lançaram no ano passado o EP de estreia da banda e um videoclipe espetacular, mas depois disso a banda não lançou mais nada e nem foi para a estrada. Quais os planos para o futuro do Marabô?
Pucci: Estamos compondo novas músicas e querendo planejar uma turnê. É a única banda que comecei do zero e na qual participei muito das composições. Queremos colocá-la na estrada assim que lançarmos mais músicas. Gosto muito do vocal do Chehuan e das letras que dizem muito sobre o que sou e o que somos. Neste exato momento, estou no laptop separando riffs que compusemos juntos.
Rádio A.S. Brazil: Como baterista, você transita por estilos bem distintos, do groove pesado do Cultura Tres ao peso cru do Escombro, passando pela técnica apurada do Noturnall. Como você adapta sua linguagem musical para cada projeto e o que cada um representa pessoalmente e profissionalmente?
Pucci: Acho que preciso de algumas bandas para me expressar. Tem muita coisa que penso e que não cabe em uma banda, mas cabe em outra. Depende do que queremos dizer e de como queremos dizer. A forma de tocar muda muito de uma para outra, mas uma acaba ajudando a outra também. Fora que estar sempre em atividade me mantém em forma, o que é essencial para bateristas. Além disso, minha visão de composição acaba se ampliando, bebo de várias fontes para, na hora de compor e tocar, apenas sentir, sem precisar pensar demais. Cada banda me remete a um sentimento que não dá pra canalizar em um único trabalho. A ideia é soar como um baterista diferente em cada banda, incorporar os estilos. Afinal, são estilos que realmente vivo e que ouço desde sempre.
Rádio A.S. Brazil: O nosso site valoriza e apoia o underground como uma força coletiva essencial para transformar e fortalecer o cenário musical. Gostaríamos de pedir que você indique cinco bandas do underground nacional que merecem a atenção dos nossos leitores.
Pucci: Ótimo! Indico One True Reason, Test, Auro Control, Fim do Silêncio e Paura
Rádio A.S. Brazil: Por fim, deixamos aqui o espaço aberto para que deixe um recado aos fãs do seu trabalho e aos leitores da Rádio AS Brazil.
Pucci: Muito obrigado a vocês e aos leitores. Sem vocês, não existe cena. Compareçam aos shows, comprem merchandising, mostrem as bandas para seus amigos. Sejam ativos, afinal, esse é o nosso meio. Cuidamos, preservamos, divulgamos e sustentamos. O Metal não foi feito para ser mainstream, ele foi feito para incomodar, mais do que apenas entreter. Nos vemos no moshpit!
Créditos da Fotografia: Caike Scheffer.
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