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A Canção do Dragão e a Dança dos Anões

A Canção do Dragão e a Dança dos Anões

No coração de uma montanha colossal, onde o silêncio reina absoluto, repousa um lago cristalino, tão claro que reflete o céu noturno com uma nitidez assustadora. É difícil distinguir onde a água termina e o céu começa. Neste lago, escondido das vistas mortais, algo se mexe.
Um dragão de escamas azul-escuras emerge lentamente da superfície espelhada. Suas escamas cintilam como estrelas dispersas em um vasto universo, refletindo a luz fraca das constelações acima. Seus olhos, orbes de sabedoria antiga, contemplam o mundo ao seu redor com uma serenidade que esconde o poder imenso que ele possui.

À frente dele, revelando-se em meio à escuridão, está o Reino dos Anões. Um domínio subterrâneo, escondido nas profundezas da montanha. As torres do reino parecem feitas de pérolas brancas, irradiando um brilho suave que contrasta com as trevas do lago e do céu. Jardins místicos florescem em cada canto, exibindo flores que brilham em cores impossíveis, como se capturassem a essência das auroras mais belas que o mundo jamais viu.

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O dragão, guardião milenar deste reino, sente o pulsar das pedras, o sussurro das flores, e o ritmo constante do coração da montanha. Ele possui um poder raro, capaz de controlar as ondas sonoras, moldando o som em formas e movimentos que poucos podem compreender.

Ele abre a boca, não para rugir, mas para cantar. E sua canção não é ouvida com os ouvidos, mas sentida com a alma. As ondas sonoras atravessam as profundezas da montanha, ecoando pelas torres peroladas, fazendo com que as luzes das flores vibrem em cores mais intensas.
Os anões, criaturas pequenas e robustas, começam a sair de suas casas esculpidas na rocha, atraídos pela melodia mágica. Eles carregam em seus olhos o brilho da curiosidade e em seus corações a alegria de uma tradição antiga. Quando a canção atinge seu ápice, eles não podem resistir; seus corpos se movem com graça inesperada, dançando sob o céu estrelado refletido na superfície do lago.

No horizonte, um portal mágico, feito de pura luz, pulsa suavemente. Ele conecta o reino subterrâneo ao mundo acima, onde um grupo de humanos senta-se em uma praia escura, cercada por sombras e mistério. Eles seguram um instrumento antigo, esculpido em madeira e ornado com símbolos esquecidos pelo tempo. O som do dragão chega até eles através deste artefato, uma melodia suave e encantadora que parece vir de outro mundo.
Os humanos, fascinados, fecham os olhos, permitindo que a música os transporte. Eles podem quase sentir as escamas do dragão, ver as torres peroladas e as flores brilhantes. A atmosfera ao redor deles se torna mágica, como se o véu entre os dois mundos estivesse se tornando cada vez mais tênue.

Enquanto a dança dos anões continua, o dragão, com sua presença majestosa, sabe que sua canção está unindo os dois mundos, se não fisicamente, pelo menos na alma. As cores azul-escuras do lago e do céu se misturam com as vibrantes luzes do reino dos anões, criando uma tapeçaria de magia e mistério que nenhum olho humano jamais poderia compreender totalmente.
Assim, sob o olhar das estrelas e na companhia do dragão cantor, o reino subterrâneo e o mundo da superfície se unem, mesmo que apenas por um breve momento, em uma dança cósmica de luz e som, onde a realidade se dissolve e a magia se torna tudo.
Conforme a canção do dragão ecoa pelas profundezas, algo além da música começa a despertar. Nas sombras da montanha, antigas energias que estiveram dormentes por eras começam a se agitar, atraídas pela poderosa melodia. Os anões, imersos em sua dança, não percebem, mas o dragão, com seus sentidos aguçados, sente o despertar dessas forças.

O guardião azul-escuro, ainda cantando, gira seu olhar para as fendas mais profundas da montanha, onde as luzes das flores não alcançam. Há algo lá, uma presença antiga, tão antiga quanto a própria terra. Ele sabe que sua canção está prestes a desencadear mais do que apenas uma dança festiva.
Do fundo do lago, a água começa a borbulhar e brilhar com uma luz interna. As ondas, antes tranquilas, agora ondulam suavemente, como se estivessem sendo acariciadas por mãos invisíveis. O portal mágico, que antes pulsava de forma suave, começa a emitir flashes de luz mais intensa, como se estivesse se preparando para uma grande revelação.

Na praia escura, os humanos sentem a mudança. A música que antes os envolvia em uma sensação de paz e encantamento agora carrega uma tensão palpável, um presságio de algo iminente. Eles trocam olhares, incertos sobre o que está por vir, mas incapazes de se afastar da magia que os mantém cativos.
Do coração da montanha, um brilho dourado começa a emanar, tão forte que até mesmo as torres peroladas parecem empalidecer diante dele. É uma luz antiga, pura, como se viesse do início dos tempos. Os anões, parando de dançar, se viram para olhar, seus olhos arregalados em uma mistura de medo e reverência.
Uma figura emerge do brilho, alta e esguia, envolta em mantos dourados que fluem como água líquida. Sua face é indistinta, sempre mudando, como se não pertencesse a uma única forma. É o espírito da montanha, uma entidade esquecida pelos tempos, mas que sempre esteve ali, silenciosa, observando.

O dragão, interrompendo sua canção, se inclina respeitosamente, reconhecendo o poder que agora se manifesta. Os anões caem de joelhos, suas cabeças baixas em reverência. A figura dourada, flutuando acima do solo, levanta uma mão, e o silêncio absoluto cai sobre o reino.
A voz da entidade é como o som de rochas se movendo, antiga e poderosa, “tua canção despertou o que estava escondido. Este reino, por muito tempo protegido, agora deve encarar seu destino.”

O dragão, com uma expressão grave, responde com um rugido baixo, que ressoa como um trovão distante. Sabe que o despertar da entidade significa que um grande ciclo está chegando ao fim, e um novo está prestes a começar.
Do portal mágico, uma nova onda de energia irrompe, e os humanos na praia, agora conscientes da enormidade do que estão testemunhando, sentem o chão tremer sob seus pés. Eles percebem que a canção que os envolvia era apenas o início de uma transformação maior, algo que mudaria não apenas o reino dos anões, mas todo o equilíbrio entre os mundos.
A figura dourada se vira para os anões, que ainda permanecem ajoelhados. “Vocês, filhos da montanha, devem escolher. Permanecer neste mundo oculto ou seguir a luz do portal, e enfrentar o desconhecido que aguarda além.”
O silêncio se prolonga, a escolha pairando no ar como uma questão inevitável. Os anões, criaturas de tradição e ordem, sentem a tensão da mudança, mas também a atração do novo, do que poderia ser descoberto além das fronteiras de seu lar subterrâneo.

Finalmente, o ancião dos anões, com sua barba branca fluindo até o chão, ergue-se. Ele é o mais velho e o mais sábio entre eles, e sua voz, embora fraca, carrega o peso da sabedoria acumulada por séculos.
“Nós seguiremos a luz,” declara, suas palavras firmes, “pois sabemos que o tempo de nossa reclusão chegou ao fim. O mundo lá fora nos chama, e devemos responder.”
O dragão, em aprovação, solta um sopro de ar que faz as estrelas em suas escamas cintilarem ainda mais intensamente. Sabe que esta decisão é apenas o começo de uma nova jornada para seus protegidos.
Com um gesto suave, a figura dourada guia os anões até o portal. Um a um, eles entram na luz, suas silhuetas desaparecendo como sombras na alvorada. Os humanos, ainda sentados na praia escura, observam em maravilha enquanto as figuras anãs emergem do portal, unindo os dois mundos de uma forma que não era possível há poucos momentos.
Quando o último anão passa pelo portal, a figura dourada se volta uma última vez para o dragão. “Guarda este reino. Pois, um dia, aqueles que partem podem desejar voltar.”

Com essas palavras, a entidade se dissipa, deixando para trás apenas a serenidade da montanha e o brilho suave das flores mágicas. O dragão, agora sozinho, retorna ao lago cristalino, sua canção silenciada, mas seu dever eterno permanecendo.
No mundo acima, os anões encontram-se em um novo amanhecer, sob um céu desconhecido, mas com a promessa de aventuras que só o vasto e misterioso mundo pode oferecer. E enquanto eles exploram o novo terreno, a canção do dragão ecoa em suas memórias, uma melodia que os guiará em sua nova jornada, sempre ligada às raízes de sua antiga casa.
O amanhecer chega ao mundo acima, tingindo o céu com tons suaves de rosa e dourado, enquanto os anões respiram pela primeira vez o ar fresco da superfície. Eles olham ao redor, maravilhados com a vastidão do horizonte, algo que apenas ouviram em lendas antigas. Cada passo que dão é uma mistura de medo e excitação, uma dança entre o conhecido e o desconhecido.

Os humanos, ainda boquiabertos, se aproximam dos anões, seus olhos cheios de curiosidade e reverência. As duas raças, separadas por eras de isolamento, agora se encontram frente a frente, unidas pelo som mágico que ainda ressoa suavemente no ar, uma lembrança do dragão azul-escuro que guardava seus destinos.
O líder dos anões, o ancião de barba branca, dá um passo à frente. Seus olhos brilham com determinação, mas também com uma profunda tristeza por deixar o lar que eles protegeram por tanto tempo. No entanto, ele sabe que a mudança é necessária, que a montanha guardará para sempre seu espírito, enquanto eles forjam um novo caminho.

“Este novo mundo,” diz o ancião com uma voz cheia de história e esperança, “será nosso lar agora. Mas jamais esqueceremos a montanha que nos moldou, nem o guardião que nos protegeu.”
Os humanos, compreendendo a profundidade desse momento, oferecem suas mãos em amizade. Os anões, hesitantes por um breve instante, aceitam o gesto, selando uma aliança que estava destinada a acontecer desde que a canção do dragão começou a tocar.
Assim, sob o céu que agora clareia, as duas raças começam a caminhar juntas, em direção a um futuro incerto, mas repleto de possibilidades. As flores mágicas que antes brilhavam no reino subterrâneo agora florescem em seus corações, guiando seus passos como faróis de luz em meio à escuridão.

Enquanto isso, nas profundezas da montanha, o dragão azul-escuro retorna à superfície tranquila do lago. Ele mergulha novamente na água, suas escamas cintilando como estrelas que lentamente se apagam. A canção que ele cantou, poderosa e mágica, agora repousa nas pedras e nas correntes do lago, uma melodia que continuará a vibrar no coração da montanha, guardando o segredo de sua transformação.
Com o último reflexo das estrelas desaparecendo na superfície do lago, o portal mágico se fecha, sua luz se dissipando como um suspiro suave. O reino dos anões agora existe apenas nas memórias daqueles que partiram, um lugar de beleza indescritível e de lendas que perdurarão por gerações.

Assim, o ciclo se completa, com o guardião retornando ao seu silêncio vigilante e os anões explorando o mundo novo que os acolheu. A magia permanece, invisível mas palpável, conectando o que foi com o que será, enquanto o dragão continua a observar, esperando pelo dia em que os anões, ou talvez outras criaturas, retornem à montanha para redescobrir o que foi perdido, e para começar novamente.

Renato Pittas   

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