Catatonic Dreams

Catatonic Dreams

Ele observava a janela, as gotas de chuva escorrendo pelo vidro, criando um padrão hipnótico. Havia algo nas tardes chuvosas que sempre o fazia refletir. Ele se lembrava de um tempo em que tudo parecia mais próximo, mais palpável. Agora, as memórias eram como sombras distantes, marcas indeléveis que permaneciam, mas que ele mal conseguia tocar.
Sentado em sua mesa, com uma caneta na mão e um caderno aberto à sua frente, escrevia. Era um hábito que ele desenvolveu com o tempo, algo que lhe disseram ser útil para o autoconhecimento. Ele anotava seus pensamentos, suas dúvidas, tentando decifrar o emaranhado de sentimentos e ideias que se formavam em sua mente.
Enquanto escrevia, permitia-se divagar. As palavras fluíam, e ele se via mergulhado em um mundo onde realidade e fantasia se entrelaçavam. Era um escape, uma forma de dar sentido às contradições que o cercavam. Ele imaginava cenários onde as leis da física não se aplicavam, onde as emoções podiam se materializar em formas tangíveis.

Em uma dessas fantasias, se via em uma floresta encantada, onde cada árvore possuía uma personalidade própria e os animais podiam falar. Caminhando por esse lugar, encontrava seres fantásticos que refletiam suas próprias dúvidas e medos. Um corvo sábio lhe dizia que a mudança era inevitável, enquanto uma borboleta colorida o encorajava a abraçar suas transformações, por mais difíceis que parecessem.
De volta à realidade, fechava o caderno, sentindo-se um pouco mais leve. Sabia que a vida era cheia de incertezas e contradições, mas acreditava na capacidade humana de se renovar. Como um camaleão, ele se adaptava, mudando de cor para se camuflar nas diferentes cenas que a vida apresentava.
Continuava a escrever, buscando autoconhecimento e abraçando suas fantasias. Cada linha escrita era um passo em sua jornada interior, uma tentativa de compreender melhor quem ele era e quem ele poderia se tornar. Afinal, ele acreditava que a transformação era a essência da vida, e que nada era definitivo.

As noites de insônia eram comuns para. Se deitava, mas a mente não descansava. O quarto escuro, silencioso, tornava-se um palco para seus pensamentos mais profundos e suas fantasias mais vívidas. Era nesses momentos que ele se sentia mais conectado com seu eu interior, onde as barreiras entre realidade e imaginação se tornavam tênues.
Certa noite, enquanto olhava para o teto, sentiu uma presença ao seu lado. Sabia que era apenas uma manifestação de sua mente, mas não podia deixar de sentir um arrepio. Olhando para o lado, viu uma figura indistinta, um reflexo de suas incertezas e medos.

“Quem é você?” perguntou, a voz um sussurro na escuridão.

“Sou parte de você,” respondeu a figura, a voz ecoando suavemente. “Sou suas dúvidas, seus arrependimentos, suas esperanças não realizadas.”

Se sentou na cama, encarando a figura. “Por que está aqui?”

“Para lembrá-lo de que a mudança é necessária. Você precisa enfrentar seus medos, abraçar suas incertezas. Só assim poderá crescer.”

Respirou fundo, sentindo o peso das palavras. Sabia que havia muito em sua vida que precisava ser confrontado. As memórias distantes, as escolhas não feitas, tudo isso formava um mosaico de sua existência.

“Como faço isso?” perguntou ele, buscando orientação.

“Através do autoconhecimento,” disse a figura. “Continue a escrever, continue a explorar suas fantasias. Elas são a chave para entender suas emoções e encontrar seu verdadeiro eu.”

Aassentiu, sentindo uma determinação renovada. Sabia que a jornada não seria fácil, mas estava disposto a enfrentá-la. Pegou seu caderno novamente, desta vez com uma nova perspectiva. As palavras fluíam com mais clareza, refletindo suas novas resoluções e sua busca incessante por significado.

Enquanto escrevia, a figura ao seu lado começou a se dissipar, como uma neblina ao sol nascente. Sentiu uma paz interior que há muito tempo não experimentava. Ele sabia que ainda havia muito a ser descoberto, mas também sabia que estava no caminho certo.
A cada palavra escrita, a cada linha preenchida, sentia-se mais próximo de compreender quem ele realmente era. Suas fantasias continuavam a guiá-lo, a mostrar-lhe novas perspectivas e possibilidades. Assim, ele seguiu escrevendo, explorando seu mundo interior, transformando suas incertezas em forças e suas fantasias em realidades.
Finalmente compreendeu que a mudança era inevitável e, mais importante, que ela era uma parte essencial de sua jornada para o autoconhecimento e a renovação.

Os dias se passavam e mantinha sua rotina de escrita. Cada sessão se tornava uma exploração profunda, revelando camadas de sua psique que ele nunca antes havia considerado. Ele percebia como suas fantasias eram mais do que simples escapismo; eram um reflexo das verdades ocultas dentro dele.

Certa tarde, enquanto escrevia à luz suave do entardecer, sentiu uma clareza que nunca havia experimentado antes. As palavras fluíam sem esforço, revelando uma compreensão profunda de suas emoções e desejos. Percebeu que suas dúvidas e medos não eram inimigos, mas sim guias que o direcionavam para um maior autoconhecimento.
Ao terminar de escrever, olhou para as últimas palavras que havia escrito:

“A transformação é a essência da vida, e através dela, encontro meu verdadeiro eu.”

Fechou o caderno com um sorriso satisfeito. Sentia-se completo, em paz com suas incertezas e pronto para enfrentar qualquer desafio que viesse. A chuva que antes parecia melancólica agora era um símbolo de renovação, lavando as antigas preocupações e abrindo caminho para um novo começo.
Levantou-se e caminhou até a janela, observando as últimas gotas de chuva caírem. Sentiu uma conexão profunda com o mundo ao seu redor, como se finalmente tivesse encontrado seu lugar nele. Com um último olhar para o céu clareando, ele sabia que estava pronto para o que viesse a seguir.
Assim, continuou sua jornada, sempre escrevendo, sempre buscando, sempre transformando. Porque ele havia aprendido que, na constante dança entre a realidade e a fantasia, reside a verdadeira essência da vida e do autoconhecimento.

Renato Pittas   

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