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“Descobridores”, de Yuri Fulone: Uma Obra a Caminho da Perfeição

“Descobridores”, de Yuri Fulone: Uma Obra a Caminho da Perfeição

Antes de começar a falar de “Descobridores” de Yuri Fulone, preciso fazer justiça à eficiência da Aqualung Records, loja da Galeria do Rock, comandada pelo Johnny Magrão. Comprei o CD pelo site deles, às 20 horas da quarta-feira, e as 11 da manhã de sexta, o Correio batia à minha porta. Ou seja, cerca de 36 horas depois. O detalhe é que moro no interior, a 300 Km de São Paulo. Só tenho que parabenizar ao Magrão e a sua equipe pela eficiência e atenção.

Posto o justo, falemos agora sobre mais sobre Yuri Fulone e sua mais recente obra: “Descobridores”.

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O multi-instrumentista Yuri Fulone começou sua carreira como tecladista de uma banda cover de Rhapsody, que mais tarde se tornaria a banda Warpride, que em 2005 lançou uma demo muito bem aceita pela crítica especializada, e logo em seguida um full-length que destacou a banda na cena Power Metal. A maioria das composições e letras do Warpride eram escritas por Yuri, que ao deixar a banda passou a trabalhar em suas novas músicas.

Em 2013 conheceu Rafael Agostino e Márcio Barrios (vocalista) que aceitaram o convite de participar em seu projeto. Finalmente em 2014 foi lançado “When the Sky Meets The Earth”, uma coleção de mini CDs. O disco é um Power/Heavy Metal com orquestrações e vários climas de teclado que fazem nos imaginar em um filme épico. Todas as letras, melodias de voz e instrumental das cinco composições ficaram por conta de Yuri, contando com a incrível voz de Márcio Barrios. No início de 2015 Yuri lança “The Blacksmith” e em 2017 é a vez de “Your Kingdom Will Fall”. Também artista gráfico, Yuri desenha cada suas capas antes mesmo de escrever as músicas, para assim ter uma referência visual sobre os temas.

Meu primeiro contato com o trabalho de Yuri Fulone foi em 2019 ou 2020 quando ele lançou “Fernão Dias Paes”, que contava a história do Bandeirante conhecido como “Caçador de Esmeraldas”. Uma obra espetacular, tanto musicalmente quanto na narrativa da história. Uma raridade no mundo musical do Brasil, já que maioria dos músicos e bandas prefere tratar de temas, digamos mais simples, como putaria, carros, motos, bebedeiras e outras coisas filosóficas. É uma obra sensacional, que conta com as vozes espetaculares de Nuno Monteiro no canto e o saudoso Isaac Bardavid (dublador de Wolverine), na narração.

É claro que uma obra versando sobre um Bandeirante iria despertar a ira dos ignorantes esquerdistas, com sua lenga-lenga de que “Bandeirantes mataram índios”, sem a menor noção dos fatos históricos, pois sem eles, os Bandeirantes, possivelmente o Brasil seria menor que o estado de São Paulo. Nesta Terra dos Bandeirantes, gostem ou não, preferem manchar uma obra como essa com ataques histéricos e esquecer os fatos históricos.

(Saiba Mais Sobre “Fernão Dias Paes” Lendo Minha Crônica/Resenha)

Agora, finalmente, falemos de “Descobridores”, onde Yuri Fulone trata de novo de fatos da história do Brasil, justamente seu descobrimento. São 10 faixas abordando a viagem de Cabral as Índias e chegada ao Brasil.

Dando uma pincelada nas faixas, “1500” é uma introdução, com a narração de Vasco de Ataíde, onde é falado sobre o início da Era das Grandes Navegações.

“Canção dos Navegantes” começa com uma gaita de fole, tocada pelo próprio Yuri, e a letra é cantada por um coro de vozes, liderado pelo cantor Nuno Monteiro. Sobre essa faixa, o próprio Yuri escreve: “Para a surpresa de muitos uma gaita de fole foi o primeiro instrumento documentado a ser tocado para os índios no Brasil pelos próprios descobridores em 22 de Abril de 1500, este detalhe descrito na carta de Pero Vaz de Caminha teve grande relevância na composição do instrumental desta versão Power Metal.” A música é uma versão de uma canção tradicional portuguesa. A terceira faixa do álbum, “Mares Nunca Dantes Navegados”, onde além da letra, baseada em trechos de “Os Lusíadas” de Camões, e instrumental perfeito, me chamou muito a atenção o vocal de Denis deMartins, que além de poderoso, tem uma dicção perfeita, coisa não muito comum nos cantores no estilo. O peso da guitarra de Pedro Esteves, também produtor do disco, é outro fator que merece destaque.

“Terra à Vista” começa com um pequeno trecho em narração, e a letra fala da chegada da esquadra de Cabral na Terra de Vera Cruz, e mostrando a determinação do Capitão e o espanto diante de tantas belezas.

A quinta faixa desse épico, é “Encontro de Dois Mundos” também começa com uma narração, e conta sobre o que ocorreu no encontro entre portugueses e índios. A música é pesada e rápida, com uma letra muito bela, de um lirismo que chega a emocionar: “Fizemo-lhes gesto que baixassem os arcos / Chegamos mais perto e ancoramos os barcos / Naquelas praias desertas”. O vocal é também muito forte e passa toda a emoção do momento, terminando com um verso maravilhoso: “Poucas palavras, mas há tanto a dizer / O encontro de dois mundos naquele entardecer”.

“Entre Índios e Gaitas” é uma faixa instrumental, com um texto em narração contando o fato de que “a gaita de fole foi o primeiro instrumento a soar nestas praias”. Também a faixa seguinte “A Carta” é instrumental e tem uma levada que remete à trilha de filmes épicos, com mais um belo texto falando sobre a carta de Pero Vaz de Caminha ao Rei de Portugal, “o mais belo registro sobre este novo mundo”.

A faixa de número 8, “Calicute”, é também uma faixa com instrumental pesado e vocal intenso, e relata a partida da esquadra com destino à Calicute, com a resignação do navegador e uma certeza tristeza em partir.

A aventura dos descobridores e de “Descobridores” começa a chegar ao final. A nona faixa “Cabo das Tormentas”, versa sobre o cabo da Boa Esperança, que na época era conhecido como Cabo das Tormentas, devido à grande quantidade de tormentas e ventos presentes na região. A letra relata sobre fatos e lendas que giravam e giram sobre o local, como gigantes que afundam navios. A letra termina com versos que tratam da resignação dos navegantes em enfrentar esses perigos. “Sem medo do infinito, se mais terra houver lá eu hei de estar”. Se tivesse que escolher entre todas, seria a minha música preferida nesse disco.

E assim, com “Brasil”, a última do disco, instrumental com narração de Vasco de Ataíde, contando que “dos 1500 homens que partiram de Lisboa, apenas 500 voltaram” e que “Cabral nunca mais cruzou os oceanos… Morreu no esquecimento”. A música termina em tom épico novamente, com bonito coro e a bateria marcando forte.

“Descobridores”, de Yuri Fulone é uma obra quase perfeita, e digo quase perfeita, porque a perfeita ainda não foi feita. Mas um dia será. E isso que digo não é uma crítica, mas um elogio, já que tudo que vi e ouvi desse multinstrumentista e criador incansável, me diz que logo ele à perfeição logo ele chegará.

“Descobridores”, de Yuri Fulone, foi gravado entre 2020 e 2023 no Estúdio Masterpiece. O álbum conta com Nuno Monteiro, Denis DeMartins, Nayara Camarozano e Pedro Esteves nos vocais; guitarras e produção de Pedro Esteves; teclados, baixo, violão e gaita galega de Yuri Fulone e bateria de Alessandro Kelvin. As narrações são pela voz perfeita de Vasco de Ataíde, que com certeza não é o marinheiro que fazia parte da esquadra de Cabral e que, de acordo com Pero Vaz de Caminha, a nau deste navegador desgarrou-se da armada perto de Cabo Verde não voltando a aparecer. Possivelmente trata-se de um pseudônimo ou mesmo homônimo, já que não informação disponível.

Agora, meu pedido final: embora haja no Youtube o disco inteiro para audição, é preciso dar apoio à trabalhos como esse “Descobridores” e outras obras de Yuri Fulone. Então, deixem de serem muquiranas e comprem. Ah, claro, comprem pela Aqualung.

Yuri Fulone

Descobridores

2023

Faixas:

01. 1500 

02. Canção dos Navegantes 

03. Mares Nunca Dantes Navegados  

04. Terra à Vista  

05. Encontro de Dois Mundos  

06. Índios e Gaitas

07. A Carta

08. Calicute

09. Cabo das Tormentas

10. Brasil

05/04/2024

Fonte : Barata Verso 

Autor : Barata Cichetto

Contato: (16)99248-0091

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