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Divagando

Divagando

Caminhando pelas avenidas da cidade, um brilho se reflete nas ruas de asfalto recém-reparado, onde robôs autônomos trabalham incessantemente para manter a infraestrutura da cidade. Passo por um grupo de crianças correndo, suas risadas ecoando entre os arranha-céus, enquanto outras se divertem em brinquedos flutuantes numa praça arborizada. Os drones vigiam de cima, garantindo a segurança de todos, enquanto as árvores modificadas geneticamente purificam o ar poluído.
Observo as pessoas ao meu redor, cada uma imersa em seu próprio mundo. Alguns caminham apressados, olhos fixos em dispositivos holográficos, discutindo negócios ou resolvendo problemas que parecem vitais. Outros se permitem um momento de pausa, saboreando um cachorro-quente de uma barraquinha de comida de rua, onde um autômato simpático prepara refeições rápidas e saborosas.
Nas esquinas, pregadores ensandecidos usam microfones e projeções holográficas para alertar sobre o iminente fim dos tempos. “A salvação está próxima!” proclamam, exigindo dízimos obrigatórios para garantir a redenção. Esses falsos profetas, manipuladores da fé, se autointitulam vozes divinas, prometendo a remissão dos pecados em troca de créditos digitais. Suas palavras ecoam vazias para mim, distantes do verdadeiro ensinamento das religiões, que pregam justiça e amor.

Enquanto continuo a caminhada, vejo empregados varrendo calçadas, suas expressões de cansaço contrastando com a eficiência mecânica dos robôs de limpeza. Em meio ao caos urbano, há um brilho de humanidade, um sentido de comunidade que persiste apesar da tecnologia avançada. Obras de reconstrução e manutenção se estendem por quarteirões, símbolos de uma cidade em constante renovação.
Penso sobre a verdadeira essência do divino, que não reside nos proclamadores de um poder transcendente, mas sim na natureza que nos cerca – orgânica e inorgânica. Vejo isso na resiliência das árvores, na harmonia das crianças brincando e nas interações cotidianas das pessoas. A verdadeira divindade está na conexão com o mundo ao nosso redor, em reconhecer a beleza e a complexidade da vida urbana.

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Passo por um parque onde um holograma de um antigo filósofo discursa sobre a importância da harmonia e do equilíbrio. Suas palavras me lembram de que ser religioso é ser justo e amoroso, valores que transcendem dogmas e rituais impostos por aqueles que buscam poder. Na essência, a divindade se manifesta na simplicidade dos atos cotidianos, na beleza da natureza e na busca por um futuro mais humano, mesmo em um mundo dominado pela tecnologia.
À medida que o sol artificial se põe no horizonte, a cidade se ilumina com uma miríade de cores, e eu continuo minha caminhada, refletindo sobre o que significa ser verdadeiramente divino em um mundo tão complexo e maravilhoso.

À medida que a noite se aprofunda, a cidade se transforma. As luzes de néon ganham intensidade, criando uma dança de cores vibrantes que refletem nos edifícios espelhados. As avenidas ficam mais movimentadas, com um fluxo constante de pessoas e veículos autônomos. Passo por uma zona de entretenimento, onde hologramas de artistas se apresentam em palcos flutuantes, e o som da música eletrônica mistura-se com as risadas e conversas animadas da multidão.
No coração da cidade, um grande mercado noturno floresce. Barracas de alimentos exóticos, artesanatos e tecnologias de ponta atraem visitantes de todos os cantos. A diversidade de rostos e culturas é uma prova da complexidade e riqueza da vida. Vejo pessoas de todas as idades, algumas exibindo implantes cibernéticos, outras vestindo roupas tradicionais misturadas com acessórios futuristas.

Uma barraca chama minha atenção. Um idoso, com olhos brilhantes de sabedoria, está sentado atrás de uma mesa cheia de cristais e artefatos antigos. Sua presença emana uma serenidade rara, um contraste com o ritmo frenético ao nosso redor. Aproximo-me, curioso, e ele me cumprimenta com um sorriso gentil.

“Bem-vindo, viajante,” diz ele, em um tom calmo. “Vejo que busca algo mais profundo em meio a todo este caos.”

Assinto, intrigado. “Sim, procuro entender a essência do divino e como ela se manifesta em nosso mundo.”

Ele faz um gesto para que eu me sente. “O divino está em tudo ao nosso redor, mas muitas vezes estamos cegos para sua presença. Veja esses cristais,” ele aponta para os artefatos na mesa. “Eles são fragmentos do tempo, testemunhas silenciosas da história. Cada um carrega uma energia única, uma conexão com o passado, presente e futuro.”
Toco um dos cristais, sentindo uma leve pulsação em meus dedos. “Mas como podemos encontrar essa divindade em uma cidade tão tecnológica e avançada?”

“O segredo está no equilíbrio,” responde ele. “A tecnologia e a natureza não são inimigas, mas complementares. Precisamos aprender a harmonizar ambos, respeitando a essência de cada um. A verdadeira divindade se manifesta na união do orgânico com o inorgânico, na capacidade de criar um mundo onde ambos coexistam em harmonia.”
Suas palavras ressoam profundamente em mim. A busca pela divindade não é uma jornada externa, mas interna. É uma questão de percepção, de estar presente e consciente da interconexão de todas as coisas. A cidade, com toda sua complexidade e avanço, é um microcosmo dessa verdade.
Agradeço ao sábio e continuo minha caminhada, levando comigo uma nova perspectiva. O mercado noturno começa a se esvaziar, e a cidade, embora ainda vibrante, adota um ritmo mais tranquilo. Volto para a praça arborizada onde as crianças agora estão adormecidas em seus carrinhos, e os adultos conversam em sussurros, apreciando a calmaria noturna.
Olho para o céu artificial, onde as estrelas cintilam, projetadas por um sistema avançado que imita a natureza. Sinto uma profunda conexão com o universo, uma compreensão de que o divino está em tudo – nas árvores geneticamente modificadas, nas crianças brincando, nos robôs trabalhando e até mesmo nas luzes que pintam a cidade de cores vibrantes.
Caminho de volta para casa, minha mente e coração abertos a novas possibilidades. Um lugar onde a tecnologia e a natureza se entrelaçam, encontro a verdadeira essência do divino. É uma cidade de contrastes e harmonias, um reflexo da complexidade humana e da beleza do mundo que construímos. E, em cada passo que dou, sinto a presença do divino, guiando-me em minha jornada contínua de descoberta e entendimento.

Ao me aproximar de casa, uma pequena residência situada entre duas grandes torres, sinto uma serenidade inesperada. A fachada é coberta por plantas trepadeiras bioluminescentes que brilham suavemente no escuro, um lembrete constante da fusão entre natureza e tecnologia. A porta se abre automaticamente ao me reconhecer, e entro em um espaço acolhedor, cheio de lembranças e simplicidade.
Sentado na sala de estar, reflito sobre o dia. O encontro com o sábio no mercado noturno e suas palavras sobre o equilíbrio entre o orgânico e o inorgânico ecoam em minha mente. Percebo que a verdadeira busca pela divindade não se encontra em sermões apocalípticos ou promessas vazias de salvação, mas na maneira como escolhemos viver nossas vidas diárias.
Olho pela janela e vejo a cidade, agora banhada por uma tranquilidade noturna. A praça arborizada, os prédios, as crianças adormecidas, tudo parece conectado em uma teia invisível de existência. A cidade, com todas as suas contradições, é um testemunho de que o divino se manifesta de maneiras inesperadas e sutis.
Minha visão se fixa em um cristal que trouxe do mercado, um presente do sábio. Sua luz suave e pulsante parece me convidar a meditar sobre as palavras que ouvi. Fecho os olhos, sentindo a energia do cristal e me permitindo um momento de introspecção.
Neste estado meditativo, percebo que a essência divina está em cada escolha que fazemos, em cada ato de bondade, em cada esforço para criar harmonia em nosso mundo. Está na aceitação das diferenças, na apreciação das pequenas belezas da vida e na busca constante por equilíbrio.
Quando abro os olhos, sinto-me renovado. A cidade, com todas as suas luzes e sombras, é um reflexo da jornada humana em busca de significado. A cidade é mais do que um cenário futurista; é um símbolo da nossa capacidade de adaptação e evolução.

Levanto-me e me preparo para dormir, grato por este dia de descobertas. Ao deitar, sinto uma paz profunda, sabendo que a busca pelo divino é uma jornada contínua, repleta de momentos de epifania e simplicidade.

Adormeço com um sorriso, envolto pela certeza de que, em cada esquina, em cada interação e em cada ato de equilíbrio entre o tecnológico e o natural, a verdadeira essência do divino está sempre presente, guiando-nos e inspirando-nos a ser mais justos, amorosos e conectados com o universo ao nosso redor.

Renato Pittas   

Contato:[email protected]

https://sara-evil.blogspot.com/

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