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Margaritas ante porcus

Margaritas ante porcus

O salão estava repleto de gente que falava com as mãos, lançando olhares atentos às taças de vinho cuidadosamente cheias até a linha imaginária da elegância. No fundo, perto de uma mesa coberta com revistas importadas, jazia a última edição de uma publicação francesa. A capa trazia um modelo imponente, trajado em vestes atemporais, que vendia um “je ne sais quoi” como uma verdade inquestionável. Os presentes deslizavam os dedos por ali como se pudessem tocar aquele mundo e absorver algo de eterno.

Foi nesse contexto que chegou o senhor de olhar distante e casaco gasto. Ele observava o ambiente com um ar de quem sabia demais, alguém que conhecia, talvez, a matemática da simetria e da falsidade com uma exatidão assustadora. Caminhou até a mesa com passos lentos, olhou o título na capa da revista como se aquilo fosse um quebra-cabeça. Murmurou algo sobre o peso das máscaras e o verniz das palavras.

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Mas ninguém percebeu. Eles estavam ocupados demais tentando posar, entre goles calculados e sorrisos forçados. Ele pegou uma das revistas e deu uma risada abafada, um som que parecia ecoar pelos cantos do salão como uma crítica silenciosa. Aproximou-se de uma jovem que admirava uma página com entusiasmo estranho para alguém tão alheio àquelas modas. Ela o olhou, surpresa, como se ele fosse a imagem que saltava do papel.

E então, com um gesto de pura curiosidade ou descaso, ele disse:

— Você já leu o que está além da capa?

A jovem piscou, surpresa, e hesitou antes de responder. O salão continuava seu murmúrio, os olhares dançavam entre taças e conversas soltas, e o senhor, imóvel, aguardava a resposta como se fosse mais importante do que qualquer brinde naquela sala.

— Além da capa? — repetiu ela, tentando ganhar tempo enquanto seus olhos vasculhavam o rosto do homem, que parecia alheio a todas as normas daquela reunião. — Eu… eu gosto das imagens, sabe? Das cores, da estética.

Ele sorriu, quase indulgente, e puxou a cadeira ao lado dela sem pedir permissão. A moça olhou ao redor, envergonhada. O que diriam os outros? Mas ele ignorava qualquer desconforto. Abriu a revista na metade e passou as páginas lentamente, os dedos ligeiramente trêmulos, como se cada folha carregasse algo que ninguém mais enxergava.

— As imagens, as cores… Elas te dizem algo ou é só o efeito? — perguntou ele, a voz baixa, enquanto fitava uma fotografia que mostrava uma jovem em um vestido cintilante, lançando um olhar vazio para a câmera, perdida em algum devaneio cuidadosamente encenado.

A jovem inclinou-se, interessada, embora não soubesse ao certo se estava atraída pela imagem ou pelas palavras do homem. Ele continuava folheando a revista, e a cada página aberta, suas palavras se tornavam mais enigmáticas.

— Veja bem, essas fotografias não contam uma história… Elas constroem uma ilusão. Aqui, tudo é simetria, encaixe perfeito, um vinco calculado, um sorriso coreografado — ele dizia, e sua voz era como um eco daquela crítica que se formava no fundo do salão, entre sussurros inaudíveis.

Ela olhava para a revista, mas não conseguia mais ver a mesma coisa. Os tons e poses de repente pareciam rasos, vazios, e as palavras do senhor ressoavam como um choque contra tudo que ela achava que entendia. Ele, percebendo a mudança no rosto dela, fez uma pausa e, num tom ainda mais baixo, acrescentou:

— E será que a nossa vida… também é assim?

A jovem encarou o homem, como se subitamente percebesse que havia algo de podre naquele brilho todo, naquelas páginas brilhantes e cheias de poses encenadas. Olhou ao redor, como se pela primeira vez realmente visse as pessoas ao seu redor — todos cuidadosamente organizados em suas próprias páginas, sorrindo e murmurando, como se a vida ali fosse mesmo uma revista aberta, uma galeria onde só se mostrava o que era digno de um clique.

O senhor, notando o desconforto dela, deu uma última risada rouca e empurrou a revista para longe.

— Veja bem — disse, com um sorriso irônico —, o truque é que todo mundo aqui sabe que é encenação. Sabem que o brilho do papel não passa de verniz barato. Mas… desde que pareça verdadeiro para os outros, quem liga para o conteúdo, não é mesmo? Afinal, “autenticidade” é só mais um acessório vintage, como os outros, que você usa quando quer impressionar a plateia.

Ele se levantou com um aceno e um sorriso de despedida, deixando a jovem ali, ainda segurando a revista, a mão rígida sobre a capa. Observou-o sair do salão, caminhando com o casaco gasto e a cabeça erguida, enquanto os outros voltavam a seus murmúrios e taças, suas poses e sorrisos bem estudados.

E ali, no meio do barulho calculado e da luz bem posicionada, ela teve sua epifania — uma ideia amarga que ressoou como um clichê recém-descoberto: tudo o que era verdadeiro, naquele salão de aparências impecáveis, havia acabado de sair pela porta.

Agora reescreva o mesmo e-mail, mas dessa vez escreva em um estilo que incorpore um estilo humano, português do Brasil extremamente simples, contrações, expressões idiomáticas, frases de transição, interjeições, modificadores e coloquialismos, ao mesmo tempo, em que usa dispositivos literários como simbolismo, ironia, prenúncio, metáfora, personificação, hipérbole, aliteração, imagens, onomatopeias e símile sem mencioná-los diretamente.

Renato Pittas   

Contato:[email protected]

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