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Marreta! Viajando no BarataVerso!

Marreta! Viajando no BarataVerso!

Vivemos cercados pelo Pop, Psico Pop, Neuro Pop, enfim, todos os tipos de pops, puffs de microfones, e microfonias alucinadas de interferências culturais. Assim se fez o mercado pós-Warhol, uma indústria de bilhões de dólares ou qualquer outra mídia econômica pela qual suamos no dia a dia.

No coração da cidade que nunca dorme, onde o céu é um mosaico constante de anúncios holográficos e drones publicitários, vivia, uma artista de rua que, armada com sua marreta digital, enfrentava diariamente a invasão incessante do marketing digital.

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Era uma figura peculiar no multi verso, uma realidade virtual onde os cidadãos podiam escapar da vida real por algumas horas. No entanto, mesmo lá, os paraísos de bem-estar eram vendidos em embalagens coloridas e sons estridentes. Era impossível fugir dos anúncios; estavam nas esquinas virtuais, nos céus projetados, até mesmo nas mentes das pessoas, graças aos implantes de realidade aumentada.
Cercada de imagens forjadas sobre paraísos de bem-estar, via a farsa por trás do celofane e dos papéis impressos em quatro cores. Sentada em um beco virtual, ela observava os transeuntes digitais, todos mergulhados em seus dispositivos, sintonizados nas suas bolhas de felicidade artificial.

Se perguntava se uma marreta poderia quebrar tudo isso. E então, decidiu que sim. Com sua marreta digital, desenvolvida em segredo, começou a sabotar anúncios e propagandas, desfragmentando os códigos que sustentavam aquelas ilusões. Sua marreta emitia pulsos eletromagnéticos que faziam os pixels dançarem em confusão, transformando anúncios brilhantes em uma cacofonia de cores sem sentido.
Seu movimento ganhou força. Outros começaram a seguir seu exemplo, equipados com suas próprias ferramentas de destruição digital. Juntos, formaram um grupo chamado “BarataVerso”. A cidade virtual começou a mudar; as cores gritantes dos anúncios deram lugar a espaços neutros, onde a verdadeira comunicação entre as pessoas podia acontecer.

A cidade ainda estava repleta de mercadorias para todos os gostos, mas algo havia mudado. As pessoas começaram a valorizar o real, o autêntico, mesmo que fosse virtual. A marreta não apenas quebrou as ilusões; ela construiu um novo tipo de conexão entre os habitantes.
Ao caminhar por uma rua antes dominada por anúncios holográficos, sorriu. Ela sabia que ainda havia muito a fazer, mas pelo menos, agora, as pessoas tinham um espaço para respirar e pensar por si mesmas. A marreta continuava em sua mão, um símbolo de resistência e transformação em um mundo onde o Pop havia se tornado uma prisão de celofane.

Olhou para o horizonte digital, onde as luzes piscavam em uma dança frenética de cores e sons. A batalha estava longe de terminar. Apesar do sucesso inicial dos BarataVerso, as corporações por trás dos anúncios holográficos não desistiriam facilmente. Elas já estavam desenvolvendo novos métodos de infiltração, tentando reconquistar o controle sobre a percepção das pessoas.
Na sede dos BarataVerso, um antigo armazém abandonado tanto na vida real quanto no , ela e seu grupo discutiam suas próximas ações. O lugar era um contraste gritante com o brilho excessivo da cidade: paredes escuras, grafites que contavam histórias de resistência e mesas cheias de dispositivos eletrônicos improvisados.

“Precisamos de uma estratégia nova,” disse, um hacker habilidoso que se juntou ao grupo recentemente. “As corporações estão usando algoritmos que se adaptam rapidamente às nossas intervenções.”

“Talvez possamos usar isso a nosso favor,” sugeriu, uma programadora de IA. “Se criarmos um código que se auto-replique e se espalhe pelos sistemas deles, poderemos sobrecarregar os servidores e causar um colapso temporário.”

Ela refletiu sobre a ideia. “É arriscado, mas pode ser a nossa melhor chance de criar uma mudança significativa. Precisamos atingir a raiz do problema, não apenas os sintomas.”
Enquanto os BarataVerso trabalhavam na criação do novo código, Ela decidiu fazer uma visita ao mundo real. Saindo do universo virtual, ela caminhou pelas ruas reais, um lugar menos glamoroso e mais caótico do que sua contraparte digital. Aqui, as pessoas lutavam para sobreviver, cercadas por pobreza e decadência, contrastando com a opulência virtual que era vendida como uma fuga.

No centro da cidade, um grande painel publicitário transmitia mensagens incessantes de consumo. “Encontre sua felicidade, “Compre agora, viva melhor!” sentiu a familiar raiva borbulhar dentro de si. Ela sabia que aquela felicidade era uma mentira, uma ilusão vendida a um preço alto demais.
De volta ao armazém, os BarataVerso estavam prontos. O código, apelidado de “Libertador”, estava terminado. a técnica em IA conectou o dispositivo aos sistemas virtuais, e com um último olhar, ativou o programa.
Os efeitos foram imediatos. As telas de publicidade começaram a piscar, os hologramas se distorceram, e as mensagens de consumo deram lugar a imagens de natureza, rostos humanos e palavras de encorajamento e liberdade. Por um breve momento, a cidade virtual experimentou uma paz desconhecida, um silêncio que permitiu que as vozes verdadeiras dos habitantes fossem ouvidas.

Mas as corporações reagiram rápido. Servidores foram reiniciados, os sistemas foram restaurados, e as mensagens de consumo voltaram a inundar. No entanto, o impacto do Libertador não pôde ser apagado. As sementes da dúvida haviam sido plantadas na mente das pessoas, e muitos começaram a questionar a realidade que lhes era vendida.

Sabia que essa era apenas uma batalha em uma guerra longa. Mas cada pequeno ato de resistência trazia a promessa de um futuro onde a autenticidade pudesse florescer. Com a marreta digital em mãos e uma determinação renovada, ela se preparou para o próximo round.

As luzes da cidade brilhavam mais intensamente do que nunca, mas agora, em algum lugar nas sombras, havia um grupo de rebeldes prontos para continuar a luta pela liberdade.

No entanto, no âmago, a resistência foi breve. As corporações, implacáveis e sedentas por lucro, reforçaram seus algoritmos, contratando os melhores hackers do submundo digital para eliminar qualquer vestígio do Libertador. Em questão de dias, os anúncios voltaram com mais força, mais brilhantes e penetrantes do que nunca, penetrando diretamente nas mentes dos cidadãos com implantes de realidade aumentada.

Ela observava com uma sensação de desespero crescente. Cada esforço, cada marretada digital parecia ser um grão de areia contra um tsunami de consumo incessante. Os BarataVerso começaram a se desintegrar, alguns sendo capturados, outros desistindo, e muitos se rendendo às ofertas tentadoras de trabalho para as próprias corporações que combatiam.
A cidade se tornou uma distopia resplandecente, um carnaval permanente de luzes e sons, onde a linha entre o real e o virtual se dissolveu completamente. As ruas, tanto reais quanto digitais, estavam lotadas de indivíduos com olhares vidrados, todos conectados a uma felicidade fabricada e vazia, movendo-se como autômatos de uma publicidade para a próxima.

Agora sozinha, perambulava pelos becos escuros, tanto físicos quanto digitais, tentando encontrar alguma faísca de esperança. Mas tudo o que via eram rostos apagados pela artificialidade. O armazém dos BarataVerso estava abandonado, coberto de poeira digital, seus grafites desbotados e esquecidos.
Ela se sentou no chão frio de um beco virtual, segurando sua marreta digital, agora mais um símbolo de uma luta perdida do que uma ferramenta de resistência. O peso da realidade – tanto a real quanto a fabricada – parecia esmagá-la.

O meta verso e o real se tornaram um só, uma colcha de retalhos decadente de cultura pop, onde qualquer autenticidade foi consumida e regurgitada em formas vendáveis. A promessa de uma conexão verdadeira havia se perdido em um mar de anúncios e ilusões.
Ela soltou a marreta, deixando-a cair com um som oco no chão virtual. As cores ao seu redor continuavam a brilhar intensamente, indiferentes ao seu desespero. A cidade continuava sua festa interminável, um monumento decadente à cultura do consumo.
Em um último ato de resignação, ela fechou os olhos, permitindo-se ser engolida pelo turbilhão de luzes e sons, aceitando a inevitabilidade de um mundo onde a resistência era apenas um eco distante, abafado pelas batidas incessantes do Pop, Psico Pop, e NeuroPop.
O multi verso triunfou, não com uma explosão, mas com um silêncio ensurdecedor, onde a verdadeira humanidade se dissolveu na maré de uma cultura consumista inescapável.

Assim, na cidade, a resistência se apagou, e a marreta, que um dia prometera quebrar as ilusões, ficou esquecida em um canto escuro, um relicário de uma esperança perdida.

Renato Pittas   

Contato:[email protected]

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