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O Esquecido

O Esquecido

Em um vilarejo distante, vivia um menino. Ele tinha uma habilidade muito especial: sua cabeça estava sempre cheia de ideias mágicas. Mas, com tanta coisa acontecendo dentro de sua mente, vivia esquecendo o que estava fazendo. Cometia erros, derrubava coisas, escrevia palavras incompletas. Todos no vilarejo o conheciam por ser distraído, e ele mesmo às vezes ficava frustrado por isso.

Certa manhã, decidiu sair para um passeio na floresta. Diziam que, lá no meio das árvores antigas e brilhantes, havia um lugar chamado “Floresta dos Esquecidos”, onde as pessoas deixavam todas as suas distrações e erros. Curioso, queria saber se aquilo era verdade.

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Enquanto caminhava entre os troncos que pareciam sussurrar histórias antigas, notou que as árvores mudavam de cor conforme ele passava, do verde para o dourado, depois para um azul suave. Cada folha que caía no chão, ao toque de seus pés, transformava-se em uma pequena luz que flutuava ao seu redor.

Ele finalmente encontrou um portal entre as árvores, e sem pensar duas vezes, atravessou. Do outro lado, a Floresta dos Esquecidos era um lugar mágico e estranho. No chão, ele viu letras que pareciam ter caído de livros, notas musicais voando como pássaros, e até objetos que as pessoas haviam deixado cair, como lápis, meias perdidas, e chaves esquecidas. Tudo aquilo dançava ao redor, em um ritmo suave, como se nada no mundo tivesse pressa.

Continuou explorando, até que encontrou uma criatura peculiar: um velho gnomo de barba prateada e olhos brilhantes. Ele sorriu ao ve-lo e disse:

— Ah, mais um visitante distraído! Seja bem-vindo, pequeno. Aqui, nós guardamos todas as coisas que as pessoas deixam para trás, como seus pensamentos soltos e suas ações inacabadas.

Ficou surpreso.

— Eu… Eu vivo deixando tudo cair, esquecendo palavras. É por isso que estou aqui? — perguntou, um pouco envergonhado.

O gnomo riu.

— Todos cometemos erros, pequeno. Mas a magia não está em evitá-los, e sim em como você lida com eles. Cada vez que algo cai de suas mãos, você tem a chance de recolher e tentar de novo. Cada palavra esquecida pode ser reescrita com mais cuidado.

Pensou no que o gnomo disse. Olhou em volta e viu suas próprias letras caídas no chão, prontas para serem recolhidas e usadas de novo. Com um sorriso, ele juntou as palavras, uma por uma, e começou a reorganizá-las no ar, como se estivesse escrevendo uma nova história.

E, ao fazer isso, percebeu que os erros não eram algo para temer, mas sim uma forma de aprender e crescer. A Floresta dos Esquecidos não era um lugar de fracassos, mas de oportunidades.

Quando voltou para casa, já não resmungava tanto. Se deixava algo cair, ele sorria, lembrando da floresta mágica e do gnomo sábio. E, pouco a pouco, sua vida se encheu de novas histórias, escritas com atenção e um toque de magia.

Depois de sua visita à Floresta dos Esquecidos, começou a perceber algo curioso. À medida que passavam os dias, pequenas faíscas de magia pareciam segui-lo em sua rotina. Quando ele deixava cair um lápis, este saltava de volta para sua mão, como se quisesse ajudá-lo. Quando esquecia uma palavra enquanto escrevia, as letras flutuavam em sua mente, reorganizando-se sozinhas até que a frase fizesse sentido.

Um dia, na escola, estava fazendo um desenho e, sem querer, errou um traço. Ele suspirou, já se preparando para apagar, mas, antes que pudesse pegar a borracha, o traço começou a se mexer sozinho. De forma mágica, ele se transformou em um belo pássaro que voou pelo papel, enchendo sua arte de vida.

Sorriu, percebendo que a magia da Floresta dos Esquecidos não havia ficado apenas lá. Ela agora fazia parte dele. Seus erros não eram mais motivo de frustração, mas sim pequenas oportunidades para algo novo e inesperado acontecer. O que antes parecia um tropeço, agora era um salto criativo, e, mais confiante, passou a viver cada dia com um brilho diferente nos olhos.

No vilarejo, as pessoas começaram a notar. A professora dele ficava impressionada com suas histórias encantadoras, que surgiam de rabiscos que pareciam errados, mas acabavam se transformando em obras de arte. Seus amigos viam ele tropeçar, deixar coisas caírem, mas, em vez de se irritar, ele ria e via aquilo como o começo de algo divertido.

Certo dia, decidiu revisitar a Floresta dos Esquecidos, mas ao chegar ao ponto onde havia encontrado o portal, tudo parecia normal. As árvores, agora comuns, não mudavam de cor, e não havia letras caídas no chão. Ele ficou parado, sem saber o que fazer, quando o vento trouxe uma voz suave, como o sussurro das folhas:

— A magia, sempre esteve dentro de você. A Floresta apenas te mostrou o caminho.

Sorriu, sentindo-se leve. Compreendeu que, embora a Floresta fosse um lugar mágico, a verdadeira mágica estava em sua maneira de enxergar o mundo e de lidar com seus próprios tropeços.

De volta ao vilarejo, ele nunca mais olhou para os erros da mesma forma. Cada vez que algo não saía como planejado, lembrava-se do gnomo e de sua lição: os erros podem ser uma oportunidade para recriar, para transformar o comum no extraordinário. E, assim, sua vida foi cheia de encantos, surpresas e risos.

Com o passar dos anos, cresceu, mas a magia que ele havia descoberto nunca o deixou. Se tornou um jovem cheio de ideias, criativo e sempre disposto a transformar os erros em novas possibilidades. Seus desenhos, textos e até mesmo as pequenas distrações do dia a dia se tornaram fonte de inspiração, algo que ele compartilhava com os outros.

As pessoas de seu vilarejo passaram a vê-lo como alguém especial, não por nunca errar, mas por saber transformar seus deslizes em algo maravilhoso. Ensinava às crianças mais novas que não havia problema em tropeçar ou cometer enganos, pois era ali, naquele espaço de incerteza, que a magia da vida acontecia.

E assim, seguiu sua jornada, sempre caminhando com leveza, sabendo que, mesmo que esquecesse algo pelo caminho, ele poderia reencontrar e recriar, com a mesma magia que encontrou na Floresta dos Esquecidos.

Afinal, a verdadeira magia estava em como ele escolhia viver: com atenção, mas também com o coração aberto para as surpresas que os erros traziam.

Renato Pittas   

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