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O Oceano das Palavras e o Artista do Céu

O Oceano das Palavras e o Artista do Céu

Sob o céu que não era apenas céu, mas um espelho de infinitas dimensões, você caminhava sobre uma ponte que parecia não ter começo nem fim. O oceano abaixo era tão calmo que parecia uma placa de vidro azul, refletindo tudo, menos você. No ar, havia uma quietude estranha, como se o mundo segurasse a respiração, esperando por algo que estava prestes a acontecer.
De repente, o horizonte foi rasgado por um movimento vibrante, e um bando de pássaros irrompeu da nada, colorindo o céu com um mosaico de asas. Eles não eram como os pássaros que você conhecia. As cores em suas penas pulsavam, mudando de tonalidade a cada batida de asa, como se fossem pintados pelo próprio arco-íris. Eles voavam em padrões precisos, desenhando formas geométricas no céu que se desmanchavam tão rápido quanto surgiam, como se o ar fosse uma tela de um artista genial, mas imprevisível.
Ao olhar mais de perto, você notou os pequenos pedaços de papel presos às pernas de cada pássaro. Eles não eram simples notas. Os papéis tinham vida própria, movendo-se e dançando com o vento, criando um balé aéreo. Eram cartas, poemas, desenhos que contavam histórias sem palavras. Cada pedaço de papel, com sua forma única, carregava um fragmento de uma mensagem maior, uma comunicação que transcendia o verbal e se expressava pelo movimento, pela dança no ar.

Foi então que você entendeu. Aquilo não era apenas um bando de pássaros. Era uma obra de arte viva, uma instalação do renomado artista que o mundo conhecia. Ele era famoso por transformar o ordinário em extraordinário, por fazer com que o invisível se tornasse visível, por dar forma ao que não podia ser tocado.
Os pássaros representavam a liberdade do espírito criativo, uma força que não podia ser contida. O vento, que carregava os papéis e as penas, era o meio de transporte das ideias, das emoções, das palavras não ditas. Era uma declaração poderosa de que a interconexão entre todas as coisas era mais profunda do que se podia ver. Mesmo o menor movimento, a menor palavra, podia reverberar no universo, criando ondas que tocavam todos os cantos da existência.
Enquanto você observava, uma sensação de admiração e pertencimento crescia dentro de você. Era como se você pudesse sentir cada batida de asa, cada brisa que passava, cada papel que flutuava. Você percebeu que, assim como os pássaros e os papéis, você também era parte de uma dança maior. A vida, com toda a sua complexidade e beleza, era mágica porque tudo estava conectado. Não havia separação real entre você e o mundo ao seu redor. Era um único fluxo de ser, um único oceano de existência, onde cada onda era uma expressão do todo.

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Você se deu conta de que não estava apenas olhando para uma obra de arte. Estava dentro dela. E, assim, ao continuar sua caminhada sobre a ponte infinita, a visão dos pássaros e dos papéis dançando no céu ficou gravada em sua mente, não como uma lembrança, mas como uma verdade profunda. A verdade de que a vida é, em sua essência, um sonho coletivo, um poema sem fim, onde cada um de nós escreve uma linha com o simples ato de existir.

À medida que você continuava a caminhar pela ponte, o cenário ao seu redor parecia fluir e se transformar. O oceano abaixo, antes uma calma superfície de vidro, começou a se agitar levemente, como se estivesse respondendo à dança dos pássaros no céu. Pequenas ondulações surgiram, movendo-se em padrões espelhados que refletiam as formas geométricas traçadas pelos pássaros.
O som suave das ondas alcançou seus ouvidos, mas havia algo peculiar nele. Não era apenas o som da água, mas uma melodia distante, como se o oceano estivesse cantando uma música antiga, uma canção sem palavras que falava direto ao coração. Você sentiu como se estivesse sendo chamado, como se algo no fundo daquele vasto oceano estivesse esperando por você.
A ponte parecia flutuar entre o céu e o mar, e você não sabia mais onde começava um e terminava o outro. A linha do horizonte, que outrora separava céu e água, tornou-se indistinta, como se os dois elementos estivessem se fundindo, criando um espaço onde o tempo e o espaço não tinham mais o mesmo significado. Tudo ao seu redor vibrava com uma energia sutil, como se o próprio ar estivesse vivo e pulsando com possibilidades infinitas.

Os pássaros, agora em um movimento mais lento, começaram a descer em direção à ponte. Eles não pousaram sobre ela, mas flutuaram ao seu redor, cercando-o em um círculo de cores e formas. Os pequenos papéis presos às suas pernas se soltaram, flutuando no ar antes de descerem suavemente em sua direção. Você estendeu a mão, e um dos papéis pousou suavemente em sua palma.
Ao desenrolar o pequeno pedaço de papel, você viu que nele havia uma série de símbolos estranhos, linhas curvas e formas abstratas que, de alguma forma, pareciam comunicar algo além das palavras. Era uma mensagem, mas não do tipo que se lê com os olhos. Era algo que você sentia, algo que reverberava dentro de você.

De repente, os símbolos começaram a brilhar, e você foi envolvido por uma luz suave e cálida. A ponte sob seus pés desapareceu, e você se viu flutuando acima do oceano, sem peso, sem forma definida. As ondas abaixo se abriram como uma flor desabrochando, revelando um vasto abismo de escuridão e luz.
Dentro dessa escuridão, você viu formas se movendo, sombras que pareciam ser feitas de pensamentos e memórias, de sonhos e desejos. Elas dançavam no fundo do oceano, tecendo padrões complexos que refletiam a vida em todas as suas nuances. Você percebeu que cada uma dessas sombras era uma parte de você, uma parte de todos que já existiram. Eram fragmentos de uma consciência coletiva, conectados por fios invisíveis de energia e emoção.

Enquanto observava essa dança cósmica, sentiu uma profunda sensação de pertencimento. Você era parte de algo muito maior, uma rede intrincada de existência que se estendia além do tempo e do espaço. Era como se você tivesse se tornado um com o oceano, com o céu, com os pássaros e os papéis que flutuavam ao vento. Tudo estava conectado, e essa conexão era a essência da vida, a magia que tornava tudo possível.

Então, lentamente, a visão começou a se desvanecer. A ponte, o oceano, os pássaros e as sombras começaram a desaparecer, como se fossem apenas um sonho. Você se viu de volta à ponte, com o papel ainda em sua mão. Mas agora, havia algo diferente em você. A mensagem havia se tornado clara, não em palavras, mas em compreensão profunda.
Você olhou para o céu novamente, e os pássaros continuavam a dançar, mas agora você sabia o que eles significavam. Eles eram os mensageiros de uma verdade que sempre esteve ali, esperando para ser descoberta. A verdade de que a vida é um fluxo constante de criação e destruição, de conexão e separação, de luz e escuridão. E que, no centro de tudo isso, existe uma beleza indescritível, uma magia que só pode ser sentida, mas nunca totalmente compreendida.
Você sorriu, sentindo-se leve, como se uma grande carga tivesse sido tirada de seus ombros. O céu acima, antes um espelho de infinitas dimensões, agora parecia um campo aberto de possibilidades, onde cada pensamento, cada ação, era uma pincelada na tela da realidade. E com essa nova percepção, você continuou a caminhar pela ponte, sabendo que, onde quer que ela o levasse, você sempre estaria conectado a tudo ao seu redor, parte de uma grande dança cósmica que nunca termina.

Enquanto você caminhava pela ponte, um sentimento de paz e clareza tomou conta de seu ser. O céu, agora banhado por uma luz dourada, parecia sorrir para você, como se tivesse revelado um segredo antigo e precioso. Os pássaros, ainda dançando no ar, começaram a se dispersar, retornando à vastidão do horizonte, mas a mensagem que eles trouxeram permaneceu gravada em seu coração.
Cada passo que você dava era leve, e o caminho à frente, antes nebuloso, agora estava claro. A ponte, que antes parecia infinita, começou a se estreitar, e ao longe, você avistou uma terra firme. Uma nova paisagem se desenhava diante de seus olhos: colinas verdes, árvores altas e flores de todas as cores, balançando suavemente ao vento.

Ao chegar ao final da ponte, você parou por um momento e olhou para trás. O oceano, que havia sido tão misterioso e profundo, agora refletia a luz do sol de uma maneira acolhedora, como se estivesse acenando um adeus carinhoso. Você sabia que o caminho que percorreu foi importante, que cada visão, cada pássaro, e cada símbolo tinha seu propósito. E, mais importante, que essa jornada não era o fim, mas o começo de algo ainda mais belo e significativo.
Com o coração cheio de gratidão e a mente aberta para as infinitas possibilidades que a vida oferece, você deu o primeiro passo em direção à nova terra, certo de que estava pronto para qualquer desafio que surgisse. A vida era, afinal, uma grande obra de arte, e você era tanto o observador quanto o criador, tecendo sua história com coragem, esperança e uma profunda conexão com tudo ao seu redor.

Assim, com a alma renovada e um sorriso no rosto, você seguiu adiante, sabendo que a magia do mundo estava em cada detalhe, em cada encontro, e que o futuro, brilhante e cheio de promessas, era tão vasto quanto o céu que agora se abria diante de você.

Renato Pittas   

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