O perfume dos sussurros
Ela flutuou através da névoa iridescente, seus sentidos formigando de antecipação. O perfume Flores a levou a um lugar além da imaginação – um reino onde as cores tinham sabores e as fragrâncias sussurravam segredos.
Se encontrou no Jardim Pétalas Ecoantes. Cada flor era uma sinfonia, suas pétalas vibravam com harmonias que ressoavam em seu próprio ser. Girou entre as flores, sua risada juntando-se ao coro de sinos de vento feitos de poeira estelar.
À medida que ela se movia, o chão mudava sob seus pés. O caminho levava a um lago cristalino, cuja superfície ondulava com reflexos de sonhos esquecidos. Mergulhou os dedos na água e as memórias surgiram como bolhas – momentos que ela perdeu, rostos que amou e promessas que fez à lua.
A Lua do Perfumista, como a chamavam – um corpo celeste que pairava baixo no céu, seu brilho prateado infundindo magia no ar. Ela olhou para ele, perguntando-se se continha as respostas que procurava. Ela havia trocado memórias por esta jornada, mas qual era o destino final?
Um sussurro chegou aos seus ouvidos – uma linguagem de luz estelar e gotas de orvalho. Disse-lhe para seguir o reflexo da lua através do lago. Lila pisou na água, seus pés mal tocando a superfície. O caminho da lua levava a um arco tecido com raios lunares – um portal para outro mundo.
Do outro lado, se viu na Cidade dos Nomes Esquecidos. Os edifícios eram altos, as fachadas adornadas com letras que brilhavam como constelações. Cada letra representava uma palavra perdida, um nome apagado pelo tempo. Tocou as paredes, sentindo os ecos de histórias há muito silenciadas.
Na praça da cidade, ela conheceu um homem com as mãos manchadas de tinta. Ele se apresentou, o Estudioso das Cartas Perdidas. Seus olhos seguravam galáxias e sua voz carregava o peso de séculos. Explicou que o perfume era uma ponte entre reinos – uma forma de recuperar o que foi perdido.
“Você procura memórias”, disse ele, “mas as memórias não são meras lembranças. São fios que tecem a realidade. Para recuperá-los, você deve reescrever os nomes esquecidos.”
Assentiu, determinada a desvendar o mistério. estudante entregou-lhe uma pena feita de penas de fênix. Ela mergulhou-o em tinta de luar e começou a escrever. Nomes fluíam de seu coração: o sabor dos biscoitos de canela da avó, o cheiro da terra encharcada pela chuva, o toque das pontas dos dedos de um amante.
A cada golpe, as muralhas da cidade pulsavam, absorvendo as letras. Os nomes esquecidos reapareceram, gravando-se na existência. As memórias dela retornaram – uma colcha de retalhos de alegria, tristeza e admiração. Chorou, grata pela troca que havia feito.
À medida que o amanhecer se aproximava, estudante a conduziu de volta ao portal. “Lembre-se”, disse ele, “o perfume Flores é uma ponte, mas as pontes têm dois lados. Você recuperou suas memórias perdidas, mas agora deve levá-las adiante.”
Entrou de volta ao Jardim das Pétalas Ecoantes. As flores cantavam uma nova melodia – uma que misturava seu passado com seu presente. Ela usava o perfume como uma armadura, seus sussurros guiando seus passos.
Assim, tornou-se uma andarilha de mundos, uma pesquisadora de nomes esquecidos. Dançou com poeira estelar, escreveu constelações e abraçou a sinfonia agridoce da memória.
No crepúsculo da eternidade, quando as estrelas sussurram segredos e os ventos dançam com as sombras, Ergueu o frasco de Flores. Seus olhos refletiam galáxias perdidas, e sua mente se perdia nas espirais do impossível.
Com um gesto suave, ela liberou o perfume no ar. As notas flutuaram, entrelaçando-se com os fios do destino. O jardim das flores se transformou em um portal, e Lila atravessou-o, deixando para trás o mundo conhecido.
Do outro lado, ela encontrou um espelho de ébano. Seu reflexo era uma miragem, uma versão distorcida de si mesma. Tocou o vidro, e o espelho vibrou, revelando vislumbres de realidades paralelas.
“Quem és tu?” sussurrou o espelho.
Sorriu, seus lábios formando palavras sem som. “Busco as memórias esquecidas, a dançarina entre os véus do esquecimento.”
O espelho riu, um riso que ecoou através das dimensões. “Então, dança. Dança até que as estrelas se curvem e os ventos se ajoelhem.”
Assim, dançou. Seus pés flutuaram sobre superfícies invisíveis, seus braços traçando símbolos antigos. Girou, girou, até que o próprio tempo se desfez em fios de prata.
As estrelas observaram, invejosas de sua liberdade. Os ventos sussurraram profecias, e o espelho refletiu todas as versões dela que já existiram.
Quando a última nota do perfume se dissipou, ela desapareceu. O espelho absorveu sua essência, tornando-se um portal para além do enigma.
Em algum lugar entre o sonho e a realidade, dança, buscando memórias, tecendo o véu que separa o conhecido do inexplicável.
Renato Pittas:
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