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Patrulha do Espaço no SESC Belenzinho, SP. Ou: o Que Pode Ser Pouco Para Muitos é Muito Para Poucos. Ainda Bem!

Patrulha do Espaço no SESC Belenzinho, SP. Ou: o Que Pode Ser Pouco Para Muitos é Muito Para Poucos. Ainda Bem!

Sou dos poucos que nunca achou “Lóki?” de Arnaldo Baptista uma obra genial. Dos poucos que perceberam a sacada comercial da gravadora em fazê-lo ser o “Syd Barrett Brasileiro”, até com a semelhança da foto de capa. Também sou dos poucos a não idolatrar Os Mutantes “originais” como a maior banda brasileira de rock, até porque nunca foram uma, apenas um grupo da famigerada MPB, apoiado e lambido pelo membro da Máfia do Dendê que pouco tempo antes tinha participado da famigerada “Passeata contra a Guitarra Elétrica”.

Reconheço que isso de “poucos” e “muitos” tem um fator relativo que diz: pouco ou muito em relação a quê? A quanto? Dez por cento de dez milhões é muito dinheiro, e noventa por cento de um real é uma merda. Se é que entendem minha comparação. E assim continuo a usar… Que fui um dos poucos e ao mesmo tempo em que muitos, que presenciaram o show de estreia da Patrulha do Espaço em setembro de 19779 no “Concerto Latino Americano de Rock”, no Ginásio do Ibirapuera, em São Paulo, quando Arnaldo Baptista ainda capitaneava e acrescia seu nome ao da banda, mas fazendo um som que nada era parecido, com seu pianinho piano, com o que se tornou nove meses após ele, “misteriosamente”, largar a nave.

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Logo depois comprei o primeiro e clássico “Disco Preto”, que foi entregue em mãos pelo “Júnior” (Não adianta, Rolando, quem é “das antigas” e o ouviu ou viu tocando no Made, Inox, etc., nunca vai te chamar senão assim, mesmo agora você sendo um ancião… rs.), e depois ter participado do concerto histórico (aí voltamos ao muitos e poucos, porque para quem esteve foi histórico, quem não, apenas outro show), na Tarkus, que me marcou para o resto da minha existência. Segue-se a isso minha convivência com a banda no início do século e a pequena (para mim enorme, novamente me apegando às comparações quantitativas) participação na existência do “.ComPacto”, de 2003, e o espetacular — nem tanto para quem não participou — show na Led Slay.

Vinte e um anos depois, que também parece muito para muitos, especialmente para quem nem era nascido, e muito para quem já tem muitas horas de estrada e vida muito, a Patrulha do Espaço relança o disco, numa edição caprichada que me encheu de orgulho, por ter sido citado em quase duas páginas contando minha participação no mesmo, coisa que irei um dia emoldurar e mandar colocar sobre minha sepultura.

Poucos meses depois… Júnior anuncia que irão apresentar um show especial com o lançamento, incluindo a formação que gravou aquele disco, formada por ele, Marcello Schevano, Luiz Domingues — o Gentleman do Rock Brasileiro, como o apelidei —, e Rodrigo Hid. Acham mesmo que seriam 300 quilômetros de distância, cinco horas de ônibus, minhas crises de pânico e depressão que iriam me separar disso? Claro que não! Como tenho dito aqui, o que é muito para muitos pode ser pouco para poucos. Ou vice-versa.

Claro que seria uma festa, uma “Festa do Rock”, e dessa eu não poderia deixar de participar. E assim, peguei o link do SESC para a compra do ingresso e… Nada, porra nenhuma, merda alguma. É impossível comprar ingresso pela internet de uma instituição gigante como o SESC. Pedem um cadastro para enviar um SMS para confirmar que nunca chega. Muitas pessoas reclamaram disso até nas postagens do Junior no Facebook, e sei que muitos acabaram não indo por não terem conseguido comprar o ingresso. (Sobre o SESC, que para mim azedou o bolo da festa, falo mais adiante). Diante de meu comentário, Junior me disse para ficar tranquilo que ele me daria o ingresso. Lisonjeado, agradeci, claro!

Há seis anos moro em Araraquara, que fica no centro do estado de São Paulo, a cerca de trezentos quilômetros, e assim planejei sair da cidade no meio da manhã e chegar no meio da tarde, retornando no domingo à tarde/noite, aproveitando para visitar alguns amigos em São Paulo. E assim o fiz, enfrentando mais de cinco horas de estrada, porque ao entrar em São Paulo, às três da tarde, a Marginal Tietê estava invariavelmente congestionada.

Ao chegar ao Terminal Rodoviário, fui direto à loja do meu caríssimo amigo Ray, a Blue Sonic, na Galeria Nova Barão, meu porto seguro no centro escroto, fedorento e imundo de São Paulo. Depois de uns cinco cafés e algumas horas de prosa, Ray decide ir comigo, e assim entramos no metrô e rumamos para a estação Belém.

Como eu estava com uma mochila um tanto pesada, e não tinha onde deixar e dormir, aluguei pela internet um quarto num hotel próximo, e assim, passei no hotel, larguei a mochila e rumamos para o SESC, embora fosse ainda muito cedo, apenas 19 horas, sendo que o show começaria uma hora e meia depois. Da mochila apenas retirei o par de CDs “Compacto + Maioridade” que pretendia pedir para serem autografados pelos quatro, porque, embora eu nunca ligasse para isso, aquele era uma coisa muito especial.

Eu tinha sido orientado pelo Junior a procurar o Klaus, produtor da banda, para retirar meu ingresso, e depois de tê-lo contatado, que me pediu para procurá-lo na portaria, ao fazê-lo fui informado de que ele estava nos bastidores porque tinha “acontecido um problema com a banda”. Fiquei preocupado, mas meia hora depois, o Klaus, aliás uma das pessoas que a gente vê a primeira vez e parece que é amigo há vida inteira, de tanta afinidade e simpatia, me disse que o Junior tinha sofrido uma queda do palco, mas que o show aconteceria normalmente.

Uma das minhas maiores expectativas, além do show, é claro, era de encontrar os quatro músicos da Patrulha, a quem já não via há pelo menos dez anos, mas também porque sabia que encontraria antigos amigos rockers de São Paulo que certamente lá estariam, como o Áureo Alessandri, o Walter Possibom, o Flavio Magrão, o Michel Teer, e muitos outros. Infelizmente, por incompetência do SESC, muitos não foram porque não conseguiram comprar ingresso.

Ah… Ah… o SESC… Esse órgão que é pago com dinheiro de todos que trabalham (saibam que dentro do recolhimento para o INSS uma parte é destinada compulsoriamente ao chamado “Sistema S” — SESC, SENAI, etc., e, portanto, é com o nosso dinheiro que têm essas estruturas enormes). Como pode uma organização desse porte ter uma falha tão grande em que não se consegue sequer comprar uma porcaria de ingresso? Mas o SESC ainda vai aparecer mais adiante, para acabar de azedar o pé do frango.

Entramos, eu e Ray, na tal de “Comedoria” pouco antes do início do show, e fui encontrando, sim, vários amigos que não via há muito. Estava ansioso para encontrar mais e mais, e esperando com a minha ansiedade para a qual recuso remédios, a mil, para ver a banda, especialmente para a segunda parte do espetáculo, onde tocariam na íntegra o “.ComPacto” — Desculpa, Júnior, mas ainda me refiro com seu nome de batismo que modestamente fui eu quem dei).

O show começa, e nessa primeira parte, com a formação atual da banda, que inclui, além de Junior, o Marcello Schevano na guitarra e vocal, o Fabio Cezar no baixo e a Marta Benévolo no vocal principal, e logo na abertura duas músicas que gosto muito: “Deus Devorador” e “Olho Animal” (Essa é uma das minhas preferidas de todo o repertório da Patrulha), que, embora tenha ficado boa com a Marta e o Marcello cantando, me remete à interpretação magistral do saudoso Percy Weiss.

Segue-se a essas, “Meus 26 Anos”, música que era originalmente do repertório do Joelho de Porco, mas com a inclusão (brevíssima) do Walter Baillot à Patrulha passou a integrar seu repertório, “Poder”, música que é uma versão de uma banda argentina, e é uma das poucas da carreira da Patrulha com um conteúdo mais político, “Vamos Patrulhar” e “Rolando Rock”, fechando com “Riff Matador” (obrigado ao Michel Teer pela cópia do setlist, que eu não lembrava a ordem de cabeça). E assim se fechou a primeira parte do show, que teve ainda a participação em duas músicas de uma dupla de sopros, a “Neuro Zen”, que abrilhantou ainda mais duas das músicas, “Simples Toque” e “Vamos Curtir Uma Juntos”, as duas do primeiro disco, de 79.

A segunda parte, a que dava o mote do espetáculo e a mais esperada, com a formação “Cronofágica” (Junior, Luiz Domingues, Marcello Schevano e Rodrigo Hid). Algumas das músicas nunca tinham sido tocadas ao vivo, e assim seria maior o prazer e o privilégio em ouvi-las. Assim, Schevano permaneceu no palco e os outros deram lugar a Luiz Domingues, com uma enorme barba branca, e Rodrigo Hid. Aí foi um delírio, com as músicas dessa fase em que a sonoridade da Patrulha do Espaço estava mais para o progressivo do que para o anterior hard rock dos anos setenta até o fim do século.

Foram seis das sete músicas do disco, já que “Tooginger” era apenas uma vinhetinha, que segundo o próprio Capitão Junior não merecia ser tocada ao vivo (rs). “São Paulo City”, que abria o disco e é uma das minhas preferidas, com o baixo ruidoso do Domingues falando alto, seguida por “Louco Um Pouco Zen”, para mim quase uma viagem lisérgica, seguida por “Homem Carbono” (que na época tinha um clipe gravado, que creio nunca foi exibido a não ser para “privilegiados”), “Nem Tudo é Razão”, “Terra de Minerais”, outra faixa bem progressiva e finalizando com “Sendas Astrais”.

Finalizada a exibição das músicas do “.ComPacto”, todos os músicos se uniram para uma “jam”, incluindo a dupla de sopros do “Neuro Zen”, para executarem “Columbia”, de fato o maior clássico da Patrulha do Espaço. E com aquele gostinho de “Quero Mais”, a banda se despediu.

Foi de fato um dos melhores shows da banda que presenciei, fora os que participei nos bastidores, mas como disse anteriormente, meu grande objetivo era abraçar e matar as saudades dos amigos da banda, Luiz, Marcello e Rodrigo, e ainda tinha comigo as duas cópias do CD. Fiquei por ali, e acabei encontrando amigos que não via há muito, como o Michel Teer, o Wilson Caramello, o Flavio Magrão, o Ricardo Alpendre e outros que agora me fogem da lembrança, esperando que os músicos aparecessem. Acontece que… Ah, aparece de novo o SESC para azedar de vez o pudim.

Fora os problemas que antes relatei, a administração da tal “Comedoria” resolveu que para se pedir um salgado ou bebida, a gente tinha que atravessar o salão do show, ir a uma fila de caixas com aquelas separações com fitas típicas de bancos e comprar uma ficha, depois atravessar de novo e pegar outra fila até sair com o que queria. E tudo isso muito caro.

Enquanto estávamos ali, tirando fotos e aguardando a banda, os funcionários do SESC nos pediram “gentilmente” que saíssemos dali. E, embora eu tivesse dito que queria falar com os músicos, a senhorita SESC com seu uniforme de gala disse que não podia. Ainda fiquei, com Magrão, Alpendre e outros, próximo às portas de vidro, esperando vislumbrar os músicos da banda, até que novos “educados” funcionários do SESC nos removessem dali. O jeito foi ir embora, muito frustrado e com meus CDs sem autógrafo.

Para terminar a noite, quando retornei ao hotel e tentava dormir, comecei a sentir dores muito fortes nas pernas, o que abreviou meu retorno a Araraquara logo na manhã do sábado. E assim enfrentei mais cinco horas de Cometa, e cheguei em casa dolorido, triste por não ter conseguido estar com meus amigos da Patrulha do Espaço, mas com a certeza de que tinha estado, mais uma vez, em uma apresentação da banda que faz parte da minha vida há quase cinquenta anos. Afinal, como disse no começo: o que pode ser pouco para muitos é muito para poucos. Ainda bem!

PS.: Agradeço ao Michel Teer pelo incentivo à escrita deste relato, não review, e pelas fotos, já que meu celular resolveu dar pau e nada do que fotografei ou filmei ficou prestável.

16/06/2024

Fonte : Barata Verso

Autor : Barata Cichetto

Contato: (16)99248-0091

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