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Peranbulando

Peranbulando

Venho aqui perambulando, enquanto em volta os valores se transformam, sem que perceba. O mesmo olhar, hoje já não serve; existem outros precedentes na história, tornando o passado a cátedra do presente. Não sei se me coloco claro, porém esqueço rápido no transitivo, meio verso subversivo, terrorismo poético; nada que interfira no decorrer dos artifícios futuros.
Diziam as más línguas coisas absurdas, corrompendo tudo que havíamos estruturado com o passar de nossa patranha impregnada de “fakes” e outros artifícios complexos criados por mentes distorcidas e vícios de linguagem adquiridos pelo hábito vulgar do poder.

Caminhava pelas ruas estreitas de uma cidade antiga, onde o moderno e o decadente se entrelaçavam em um balé caótico. As paredes grafitadas pulsavam com cores vibrantes, ecos de uma revolução silenciosa. Com seu casaco de couro gasto e olhos cansados, se sentia um intruso em um mundo que não reconhecia mais. Cada esquina escondia um novo enigma, cada rosto era uma máscara de intenções desconhecidas.
Seguiu rua a fora sem se importar com a vida alheia, reclamando da desordem urbana e da grande quantidade de buracos. Imaginou constelações cobertas por buracos negros, devorando universos que se expandem em sua ordem natural. Recriou o caos e saiu por aí em busca de empatias, que lhe ensinassem a se ver como nunca tinha imaginado.

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As luzes de néon piscavam freneticamente, como um chamado de sirene. Entrou em um bar de fachada desgastada, onde a música reverberava em suas ensandecidas variações tonais. Cada nota parecia arrancada de outra dimensão, um portal para o desconhecido. Sentou-se no balcão, pedindo um drink qualquer, algo que aquecesse sua alma perdida.
Ao seu lado, uma figura misteriosa envolta em sombras acendeu um cigarro. O cheiro acre do tabaco misturou-se ao ar pesado do lugar, criando uma atmosfera sufocante. A figura olhou para ele, seus olhos brilhando com uma intensidade inquietante. “Você busca respostas, não é?” disse, sua voz ecoando como um sussurro distante.

Assentiu, sem saber ao certo o que procurava. A figura sorriu enigmaticamente. “As respostas estão nas entrelinhas da realidade. O que você vê é apenas uma camada fina, uma ilusão tecida por aqueles que controlam os fios do destino.”
Perdido no centro do obsceno tagarelar, perdido entre letras, sentiu sua mente se expandir, quebrando as barreiras da compreensão comum. As palavras da figura eram como chaves, destrancando portas para segredos ancestrais. Compreendeu que estava em uma jornada sem retorno, onde cada passo o levaria mais fundo no labirinto da verdade.

Refraseando a frase… “Easy Rider” … “Drop-out”.

A música atingiu um clímax, as luzes do bar explodiram em uma sinfonia de cores e sons. Fechou os olhos, permitindo-se ser levado pela correnteza. Quando os abriu novamente, a figura havia desaparecido, deixando apenas uma fumaça etérea no ar.
Sentiu-se transformado, como se tivesse atravessado um portal invisível. As ruas lá fora ainda eram as mesmas, mas algo havia mudado. Ele podia ver além das fachadas, além das máscaras. A cidade era um organismo vivo, pulsando com segredos e mistérios. E ele, estava pronto para desvendá-los, um passo de cada vez.

Deixou o bar, a mente ainda turbilhonando com as palavras enigmáticas da figura misteriosa. As ruas de neon pareciam mais vibrantes, como se cada luz estivesse tentando lhe comunicar algo. Sentiu um arrepio percorrer sua espinha enquanto caminhava, um pressentimento de que algo estava prestes a mudar drasticamente.
Chegou ao seu apartamento, uma pequena e desorganizada morada no terceiro andar de um prédio antigo. Abriu a porta e entrou, jogando o casaco no sofá. A sala estava repleta de livros espalhados, páginas rabiscadas com pensamentos desconexos e teorias conspiratórias. Em um canto, uma pilha de fitas cassete antigas e discos de vinil refletiam seu amor por músicas psicodélicas e experimentais.

Sentou-se em sua poltrona favorita e acendeu um cigarro, deixando a fumaça dançar pelo ar enquanto ponderava sobre as palavras ouvidas no bar. “As respostas estão nas entrelinhas da realidade…” Ecoavam em sua mente como um mantra hipnótico.
De repente, um som metálico vindo da cozinha o fez pular da poltrona. Foi até lá, apenas para encontrar uma velha televisão ligada, mostrando estática. Sabia que aquela TV não funcionava há anos. Seu coração bateu acelerado enquanto se aproximava. A estática deu lugar a uma imagem turva, e uma voz familiar começou a falar.

“Você não pode fugir do passado.”

A imagem clareou e revelou o rosto de uma mulher jovem, seus olhos profundos e tristes. Era, sua antiga paixão, desaparecida misteriosamente anos atrás. Sentiu uma mistura de medo e nostalgia. “Você? Como é possível?”

“Nunca entendeu, não é?” A voz dela ecoou pela sala. “Tudo isso… as mudanças, os valores transformados, as ilusões… faz parte de algo maior. Você precisa ver além da superfície.”

Sentiu um desespero crescente. “Onde você está? O que aconteceu com você?”

A imagem dela começou a desvanecer. “Busque as respostas. Está tudo ao seu redor, nas sombras que você teme enfrentar.” E então, a tela voltou à estática.

Confuso e abalado

se sentou no chão da cozinha, tentando entender o que acabara de acontecer. A visão dela trouxe de volta memórias dolorosas e questões sem resposta. Decidido a descobrir a verdade, ele pegou um caderno e começou a anotar tudo o que lembrava sobre ela e seu desaparecimento.
Nos dias seguintes, mergulhou em uma investigação obsessiva. Conversou com antigos amigos, revisitou lugares que frequentava com ela e desenterrou arquivos esquecidos. Cada pista parecia levar a mais perguntas, cada resposta era um novo enigma. Começou a ter sonhos vívidos, onde ela aparecia em cenários surreais, sussurrando segredos que ele mal conseguia compreender.

Um desses sonhos o levou a um antigo edifício abandonado na periferia da cidade. As paredes estavam cobertas de grafites psicodélicos, e a atmosfera era impregnada de um senso de mistério e perigo. Sentiu-se atraído para o lugar, como se algo ou alguém estivesse o guiando.
Dentro do prédio, encontrou um grupo de pessoas em uma espécie de ritual estranho. Eles cantavam em uma língua desconhecida, seus corpos movendo-se em sincronia com a música hipnótica. No centro, uma figura encapuzada segurava um livro antigo, suas páginas brilhando com uma luz etérea.

“Você,” a figura disse, revelando o rosto por baixo do capuz. Era a figura misteriosa do bar. “Você está prestes a descobrir a verdade. Mas lembre-se, a verdade pode ser mais do que você está preparado para aceitar.”
Com um aceno, a figura entregou o livro a ele. O abriu e viu que as páginas estavam preenchidas com símbolos e diagramas complexos, todos entrelaçados com palavras que pareciam saltar da página. Sentiu uma onda de compreensão e terror ao mesmo tempo. As peças do quebra-cabeça estavam se encaixando, mas a imagem revelada era uma que ele jamais poderia ter previsto.
Percebeu que estava no centro de uma conspiração muito maior, envolvendo dimensões paralelas, realidades alternativas e forças que ele mal conseguia compreender. ela estava presa entre essas dimensões, e tinha que encontrar uma maneira de resgatá-la.

Determinado, começou a decifrar o livro, sabendo que cada página o levava mais perto da verdade, mas também mais fundo no abismo do desconhecido. Ele estava pronto para enfrentar seus medos e desvendar os segredos do universo, não importando o quão profundo e sombrio fosse o caminho.
Assim, sua jornada continuava, um misto de realidade e delírio, onde cada passo era uma dança entre o conhecido e o inexplorado. E enquanto avançava, sabia que estava mudando, tornando-se alguém capaz de ver além das máscaras, alguém preparado para enfrentar qualquer verdade que o aguardasse no final do caminho.

Decifrou cada página do livro com uma obsessão crescente, cada símbolo e diagrama desvendando segredos antigos e terríveis. Quanto mais ele entendia, mais a realidade ao seu redor parecia desmoronar. As paredes do seu apartamento começavam a se distorcer, e ele via sombras dançando no canto dos olhos, figuras que desapareciam assim que ele tentava focar nelas.
Um dia, enquanto lia uma passagem particularmente críptica, a TV velha novamente ligou-se sozinha. Desta vez, a imagem era clara: ela estava em um lugar estranho, uma mistura de selva urbana e paisagem onírica, seus olhos implorando por ajuda. “Você está perto. Mas o preço da verdade é alto. Está preparado para sacrificar tudo?”
Determinando que precisava resgatá-la, ele seguiu as instruções do livro até um prédio antigo na periferia da cidade, o mesmo do sonho. O lugar emanava uma energia sinistra, mas ele entrou, guiado por uma força invisível. Dentro, encontrou um portal brilhante, pulsando com uma luz sobrenatural.
Sem hesitar, atravessou o portal. Sentiu seu corpo ser desintegrado e reconstituído, e quando abriu os olhos, estava em uma dimensão paralela. O lugar era uma versão distorcida e psicodélica da cidade que conhecia, cheia de formas e cores impossíveis. ela estava lá, presa em uma espécie de campo de força, cercada por entidades grotescas e amorfas.

“Você veio,” disse ela, a voz cheia de alívio e medo. “Mas cuidado, eles são os guardiões do limiar entre as realidades. Eles não deixarão você levar-me sem luta.”
As entidades avançaram, seus corpos mudando de forma constantemente, tornando impossível prever seus movimentos. Ele agarrou o livro, que agora brilhava com uma luz intensa. Começou a recitar as palavras que aprendera, as páginas flutuando no ar ao seu redor.

A batalha foi feroz. Cada palavra que ele proferia rasgava a realidade ao redor, criando explosões de luz e som. As entidades atacaram com fúria, mas permaneceu firme, protegendo Ana com sua própria vida. Finalmente, após um confronto brutal, as entidades foram banidas, e o campo de força que a mantinha prisioneira se desfez.

“Vamos,” disse, segurando a mão dela. Juntos, eles atravessaram o portal de volta à sua realidade. Mas algo estava errado. A cidade que conheciam estava em ruínas, as ruas desertas e os prédios caindo aos pedaços. Uma sensação de desespero pairava no ar.
“Algo mudou,” disse ela, olhando ao redor com terror. “Ao atravessarmos o portal, rompemos o tecido da realidade. Estamos em um limiar entre as dimensões.”

Ele percebeu que, embora tivesse resgatado ela, o mundo que conheciam estava perdido. Estavam presos em uma realidade fragmentada, onde o passado e o presente se mesclavam em um pesadelo interminável. As sombras dançavam ao redor deles, sussurrando segredos de loucura e destruição.

Sem aviso, a figura encapuzada apareceu novamente, seu rosto agora uma máscara de agonia. “Vocês buscaram a verdade, e ela lhes foi revelada. Mas a verdade tem um preço. Este é o novo mundo que criaram, um reflexo de seus medos e desejos mais profundos.”
Eles, agora conscientes das consequências de suas ações, perceberam que estavam condenados a vagar por essa nova realidade, tentando encontrar uma maneira de consertar o que haviam rompido. Cada dia era uma luta contra a insanidade, uma busca incessante por respostas em um mundo onde as leis da natureza não se aplicavam mais.

Assim, continuou sua jornada, um explorador de um universo despedaçado, onde cada passo era um mergulho mais profundo no abismo. Ele havia buscado a verdade, e agora estava pagando o preço, em um mundo onde os limites entre a realidade e o pesadelo haviam sido para sempre obliterados.

Renato Pittas   

Contato:[email protected]

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