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Rocks’n’shadows

Rocks’n’shadows

No âmago de uma cidade antiga, cujas ruas eram adornadas por prédios góticos cujos arcos elevados pareciam tocar os céus, a noite caía como um manto de sombras sobre a paisagem. As gárgulas esculpidas nas fachadas dos edifícios pareciam murmurar entre si, um diálogo mudo, mas constante, como se compartilhassem segredos esquecidos pelo tempo.

Nas esquinas, onde o eco dos passos ressoava em harmonia com o silêncio, falantes invisíveis extraviavam a controvérsia entre os becos, onde a escuridão se mesclava com a neblina. As palavras fluíam como notas de uma melodia progressiva clássica, ritmadas e precisas, entrelaçando-se em um moto perpétuo que jamais encontrava seu fim. Eram diálogos que pareciam se repetir em ciclos, como se o tempo naquelas ruelas estivesse preso em um loop eterno, alimentado pela incerteza e pelo fascínio da controvérsia.

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E, nesse espaço vazio, onde os prédios pareciam vigias implacáveis e os céus carregados de nuvens pesadas, a melodia preencheu o ar, tornando o invisível palpável, trazendo à tona ecos de conversas esquecidas e melodias jamais ouvidas. Era como se a cidade inteira respirasse esse som, tornando-se uma sinfonia de pedras e sombras, movendo-se ao compasso de um ritmo sombrio e encantador, onde cada palavra proferida era parte de uma orquestra oculta, que pulsava nas profundezas da alma urbana.

No entanto, a noite permanecia eterna, sem um fim à vista, como se a cidade e seus habitantes estivessem destinados a repetir seus gestos e falas, presos em um eterno balé de sons e sombras.

Nas profundezas dessa cidade gótica, onde a arquitetura se erguia com uma grandiosidade que desafiava a própria gravidade, havia um salão oculto, enterrado sob camadas de pedra e mistério. Ali, um grupo de figuras encapuzadas se reunia em torno de uma mesa circular, esculpida em mármore negro, suas superfícies refletindo vagamente a luz das velas dispostas ao redor. As chamas tremeluziam, dançando ao ritmo das palavras que eram proferidas com uma cadência quase musical.

Eram falantes à fora, não restritos ao espaço físico, suas vozes transcendendo as paredes do salão e ecoando pelas ruas vazias da cidade, como sussurros carregados pelo vento. Cada um deles carregava em si a essência de eras passadas, suas falas impregnadas de uma sabedoria antiga e de uma controvérsia nunca resolvida. Discutiam em um fluxo contínuo, um diálogo ritmado onde as palavras se transformavam em acordes, e as pausas entre elas eram compassos de uma sinfonia que só eles compreendiam completamente.

Do lado de fora, a cidade ressoava com esses ecos. Os transeuntes que se aventuravam pelas ruas escuras sentiam um arrepio na espinha ao ouvir as palavras murmuradas que pareciam surgir das sombras. As gárgulas, com seus rostos grotescos, pareciam absorver os diálogos, seus olhos de pedra observando silenciosamente enquanto a melodia dos falantes preenchia o vazio ao seu redor. Havia algo quase hipnótico nessa sinfonia urbana, um poder oculto que prendia a atenção e atraía os ouvidos mais sensíveis, como um feitiço lançado sobre a cidade.

Entre as figuras encapuzadas, um deles, cujo capuz revelava apenas o brilho de olhos antigos, levantou a mão, e o salão silenciou por um momento, como se o próprio tempo tivesse pausado. Uma nova controvérsia surgia, uma divergência tão sutil e complexa que poderia desfazer o equilíbrio delicado que mantinha o moto perpétuo daquele diálogo. Mas, antes que a tensão pudesse se resolver, um novo acorde foi tocado, uma melodia suave e progressiva que preencheu o espaço vazio, reintegrando a harmonia àquele ciclo eterno.

Renato Pittas   

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