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The Hope WaterHey!

The Hope WaterHey!

Tem alguém aí que possa ouvir o que tenho a dizer? Está tudo tão escuro… Diga-me algo que me conforte em meio a esta turbulência que me invade junto com as tempestades e as loucuras que se entremeiam entre as marés e as dores que estes analgésicos já não conseguem acalmar. Só a linha do horizonte consegue propor uma esperança que se promete inatingível como a compreensão que não consigo ter de tudo o que me cerca. Sem Deus, não há esperança. Não há mais no que acreditar, e um vazio me invade feito febre na pele. O que acreditei tornou-se minha descrença. O que deixei me preenche de vazios, alimentando a chegada da loucura que assusta-me tanto quanto a lucidez. But I’m not dead… Sei que não sou do tipo de homem que você procura, sequer consigo ser o que procuro. Vou seguindo, me distanciando do que quero ser, esquecendo de mim mesmo, distraindo-me do que consigo observar, visualizando os enganos que ocultam-me os erros, pintando um lay-out que não corresponde ao que realmente sou.

Atravessei as ruas, cercado por muros; meio-fios e o que imagino sobre os que passam, carregando histórias e os ledos enganos que escondem nossas expectativas sobre os outros. Por onde ir para escapar das faixas de pedestres e dos semáforos que criam emprego para os guardas de trânsito e multas para os incautos, que recorrem dizendo não estarem ali naquele momento? Nos perdemos entre o que queremos esconder e o que não conseguimos. Olhos que observam só o que interessa e se fazem cegos ao que realmente importa, como o espetáculo que substancia a divisão da produção, confundindo os produtores, favorecendo quem dela se apropria para negar a humanidade, no fantasiar dos paraísos prometidos. E na muda presença que sentimos envolver-nos neste escuro quarto onde sentimos os anjos sorrirem e as tempestades de nossas paixões aterrorizarem os hashishins que vivem em nosso entorno. O que disfarçamos são nossos desejos e a negação que damos a eles. Como ser livre?

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Serei livre de fato? Quem sou, se não a paródia do que sou e não percebo… Placebo para minhas angústias, tristeza afirmando minhas alegrias… Arremedo de palavras malditas, mal escritas, clamando pela juventude que se esvai. I’m really in me… Tell me a truth! Não houve mundo antes do mundo. Não haverá mundo nunca mais. As fantasias de criança se tornarão as fantasias que os pedofilistas roubarão das infâncias. Filhas globais, criaturas neoliberalistas, aditas de câncer e neossociopatias. I luv u, momy! Será que apenas o que nega o vício é a necessidade de açúcar? Colonial mentality… 1.2.3! Go! 4SSH0L3! Fome e miséria alimentando o império, subdesenvolvimento alimentando a riqueza da máquina de estado do conquistador, negando humanidade aos povos, impondo a propalada supremacia judaico-cristã, povos dizimados em nome da glória de um deus ávido por ouro e commodities… Escrotidão colonialista… God saves the sovereign vanity! Água pra beber, karcarah pra matar e comer! O jornal nacional e a canibalização em pânico diante da TV… Psicóticos desprezando a alma, negando com Skinner e Pavlov o que move cada um a ser o que inevitavelmente tentamos curar. Tell me, brother, u really have a soul? Ou ela se seca como o céu da boca com o gosto da sacarina sódica invadindo o sangue, deformando o hálito com seu resíduo amargo? É água pra beber, karcarah é água pra destilar a gota na colher. I’m still hungry! Profiteroles e sorvete de baunilha junto com vermes náufragos em vômito… Who knows my voice? Ahraruh: AhrahruH! Scarred soul! Os jornais já não estampam mais o amarelado Vaticano e as vicissitudes papais. Is the god of nothing… Blessed and forgiven! How we dance around the bacterium bang?

E no show da produção, todos de touca adoecem de L.E.R., repetindo o movimento de empilhar em espetáculo produtivo o benefício do proprietário paridor de trabalho forçado. Show da vida; espetáculo da servidão voluntária… Gritos em ouvidos surdos fazem-nos escutar a permanência dos que querem conservar a tradição, o chicote cria a lei de produção e silencia a evolução do trabalho e o direito ao ócio. Todos geram a riqueza ao um e o um gera miséria a todos. O que produz carece do que produz, padece pela má articulação dialética… Navega entre desenganos e promessas de dias melhores inatingíveis como os horizontes que dividem o céu e a terra. Alone! Em qualquer lugar, feito homem-bola, rolando por escadas espirais em mosteiros medievais… Ahraruh abadá! Só brincadeira sonora em meio a frases descrevendo anarquicamente a trajetória da degeneração histórico-genética da nossa espécie… Olhos distantes que não enxergam de perto por falta de lentes e vontade de perceber o que passa-se em volta… Língua culta e a linguagem do colonizador que finge passar-se pelo libertador, mistificando a verdade conforme a necessidade, aviltando de povos ancestrais ritos e a tradição oral pela imposição da sua fonética que enrola a língua, criando os neologismos de linguagem vulgar.

Tornando-nos incomuns em seu linguagear diferenciado e pseudo-articulado da lógica colonial… Eat it! You don’t have choice: swallow this! A dominação requer a morte de nossos desejos e a aceitação de culturas impostas, a desmitificação de nossas crenças pela mística miserável do dominador, batismo dos que nunca estiveram em pecado e que sequer comeram de garfos… Movimentos desajeitados desperdiçando comida na toalha de renda portuguesa enquanto a matriarca rabuja acerca da sujeira e do trabalho de limpar e alvejar as manchas, desprezando a lambança em nosso tecido cultural… E por vingança, daremo-lhes gerações de mamelucos, cafuzos e mulatas… Macunaímas regurgitando a carne de suas pernas… Yaras a seduzi-los para afogá-los pelos cânticos de nossas lendas na profundeza de nossos rios e alagados… Seasick navigating for the rivers of life. A independência não nos retornará ao estado de latência, somente a desobediência e a reinvenção antropofágica resgatará nossa essência… Negando a dominação e os axiomas impostos com o sangue, suor e lágrimas dos antecessores de nossa infelicidade cosmopolitana… Lost voyeurs in erotic amnesia observando big brothers desfiando seu tecido pessoal pela moeda que os tornará colonizadores de colonizados, senhores de escravos dos escravos… Maybe a tattooed millionaire!

Enquanto as palavras ressoam em sua mente, um eco de desespero e questionamento, a escuridão ao seu redor parece se fechar ainda mais. Mas então, uma pequena chama de resistência acende-se dentro de si. Há algo, uma força, um impulso primitivo, que não pode ser extinto.

Ele lembra das histórias contadas pelos mais velhos, as lendas e os mitos que sobreviveram aos tempos, passados de geração em geração. A Yara que seduzia os homens para afogá-los nas profundezas dos rios, não era apenas uma lenda de advertência, mas também um símbolo de resistência e poder feminino contra a opressão. Os Macunaímas, com sua astúcia e resistência, mostravam que a essência da identidade brasileira estava na mescla e na reinvenção constante, desafiando as imposições externas.

Tem alguém aí que possa ouvir o que tenho a dizer? – ele repete, desta vez com mais firmeza. A resposta vem do próprio eco de sua voz, uma afirmação de que, apesar de tudo, ele ainda está aqui, ainda pode lutar.
Ele decide sair daquele quarto escuro. Cada passo é uma luta contra a inércia, mas ele sabe que precisa continuar. A cidade lá fora, com seus muros e semáforos, representa não só opressão, mas também a oportunidade de transformação. Ele vê as faces dos transeuntes, cada um com suas próprias histórias, suas próprias lutas. E percebe que não está sozinho.

Ao atravessar as ruas, começa a falar com as pessoas, compartilhando suas reflexões, suas dores e esperanças. Alguns o olham com estranheza, outros com curiosidade, e alguns poucos com compreensão. Ele encontra outros que, como ele, estão cansados da imposição colonialista e das promessas vazias do neoliberalismo. Juntos, começam a formar uma rede de resistência, um movimento que busca resgatar a essência de suas raízes, celebrando a diversidade e a complexidade de suas identidades.

Água pra beber, Karkará pra matar e comer! – ele grita, como um mantra de libertação. E, aos poucos, sente que a escuridão dentro de si começa a dissipar. Não é uma vitória completa, nem uma solução mágica, mas é um começo. A chama da resistência está acesa, e ele sabe que, enquanto houver pessoas dispostas a lutar, há esperança.
A cidade, com suas luzes e sombras, torna-se um campo de batalha onde cada ação, cada palavra, é uma forma de resistência contra a opressão. E, em meio a tudo isso, ele encontra um propósito, uma razão para continuar. Não é o fim da luta, mas é o início de um novo capítulo, onde a esperança, a resistência e a solidariedade se tornam as armas mais poderosas contra a escuridão.

Os dias passam, e o movimento cresce. As ruas da cidade, antes cinzentas e opressoras, começam a vibrar com a energia de um povo despertando para sua própria força. Ele, agora um líder emergente, sente a responsabilidade e a esperança depositadas nele.

Em um dia nublado de outubro, um evento simbólico é planejado. No centro da cidade, no antigo parque que outrora foi palco de tantas manifestações de dor e resistência, ele se reúne com os outros líderes do movimento. Eles erguem um monumento simples, mas poderoso: uma escultura de um peixe feito de sucata, representando a força do Karkará e a resiliência do povo.

O sol começa a se pôr, lançando um brilho dourado sobre a cidade. As pessoas se juntam ao redor da escultura, trazendo consigo água de diferentes fontes da cidade, simbolizando a união e a purificação. Um a um, eles despejam a água em um recipiente ao pé da escultura, cada gota representando uma promessa de renovação e um compromisso com a mudança.

Ele pega o microfone, sua voz agora firme e cheia de propósito.

Hoje, estamos aqui não apenas para lembrar nossas lutas, mas para celebrar nossa força e nossa união. A água que despejamos aqui é símbolo de nossa resistência e da vida que queremos construir. Um futuro onde cada um de nós tem voz, onde nossa diversidade é nossa maior riqueza, e onde a opressão não tem lugar.
O aplauso é ensurdecedor, e ele sente uma onda de emoção. Não é apenas um momento de celebração, mas um marco de um novo começo. Ele olha para os rostos ao seu redor – rostos de todas as idades, cores e origens – e sente uma profunda conexão.

A cidade, vista do alto da colina onde o parque se encontra, parece diferente. Ainda há desafios pela frente, mas a esperança e a determinação são palpáveis. Ele sabe que a jornada será longa, mas com cada passo, eles estão mais perto de um futuro onde a liberdade, a justiça e a solidariedade prevalecem.

Naquela noite, ele caminha pelas ruas da cidade, sentindo-se mais leve. As palavras que antes ecoavam na escuridão agora são um farol de luz. E enquanto ele observa o horizonte, com as luzes da cidade brilhando, ele sussurra para si mesmo:

Estou vivo. Estamos vivos. E continuaremos a lutar, beber da água da esperança, e seguir em frente.
Com um sorriso no rosto, ele se junta aos outros, sabendo que a verdadeira liberdade é um caminho que se constrói juntos, passo a passo, gota a gota, em um mar de possibilidades infinitas.

Assim, com a chama da resistência acesa e o espírito coletivo renovado, eles enfrentam o futuro com coragem e determinação, sabendo que cada dia é uma oportunidade para transformar o mundo ao seu redor e construir um legado de liberdade e dignidade para as gerações futuras.

Renato Pittas   

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