Vou Por Aí (Cheap Thrills)

Vou Por Aí (Cheap Thrills)

Caminhando pelas ruas de paralelepípedos do centro histórico, eu me permito aprender com tudo o que me envolve. A cidade é uma velha amiga, cheia de segredos sussurrados nas esquinas e mistérios guardados sob a sombra das árvores centenárias. É nessa jornada cotidiana que recebo um presente que mudaria minha percepção para sempre: um livro dado por um amigo.
Ele me entrega o livro com um sorriso enigmático. “Leia com o coração aberto”, diz ele, desaparecendo tão rápido quanto surgiu. A capa é simples, sem título ou autor, apenas um desenho delicado de uma árvore cujas raízes se estendem por toda a superfície. Sento-me em um banco de praça e começo a leitura.

As primeiras páginas são como qualquer outro livro, contando a história de uma pessoa que, como eu, caminhava pelas ruas aprendendo com o mundo ao seu redor. Mas logo percebo algo diferente. As palavras parecem dançar, criando imagens vívidas na minha mente. Não é apenas um personagem; ele é um reflexo de minha própria busca por significado.
O livro se desenrola de maneira fantástica e realista, entrelaçando eventos cotidianos com toques de surrealismo. Em um capítulo, encontra uma biblioteca escondida no subsolo de uma velha livraria. Os livros ali não tinham títulos e, ao serem abertos, revelavam histórias que se adaptavam às experiências de quem os lia. As palavras mudavam, refletindo medos, esperanças e sonhos do leitor. A sensação é tão real que posso sentir o cheiro dos livros antigos e o frescor do ar úmido daquele porão.

Em outro momento, encontra um grupo de artistas de rua. Eles não pintam apenas muros, mas também emoções e momentos, capturando a essência da vida em suas obras efêmeras. Cada pincelada é um ato de rebeldia, uma celebração da liberdade de expressão. Esses artistas, com suas filosofias anarquistas, apresentam uma visão de mundo crua e misteriosa. Eles rejeitam as convenções sociais, preferindo uma vida de criação e caos, onde a beleza é encontrada no inesperado.

A licença poética é explorada de maneira peculiar, apresentando situações onde a realidade se mistura com o impossível. Em um dos capítulos mais marcantes, participa de um festival onde os participantes trocam suas identidades por uma noite. Eles vestem máscaras que não escondem, mas revelam suas verdadeiras essências. É uma experiência libertadora e assustadora, onde cada pessoa confronta suas próprias verdades.
Conforme avanço na leitura, sinto que o livro está me transformando. Não é apenas uma história, mas uma experiência de vida. As ideias sobre vivências e a exploração da licença poética ressoam profundamente em mim. A visão anarquista, impregnada de realidades cruas e misteriosas, me faz questionar minhas próprias crenças e percepções.

Fecho o livro com um suspiro, sentindo-me diferente, como se tivesse viajado por mundos desconhecidos e voltado com uma nova compreensão de mim mesmo e do mundo ao meu redor. Levanto-me do banco, segurando o livro com cuidado, e continuo minha caminhada pelas ruas. Vou por aí, aprendendo com o que me envolve, carregando comigo a magia daquele presente especial que, de maneira fantástica e realista, mudou minha vida.

Ao continuar minha jornada, percebo que o livro não é apenas uma leitura, mas um companheiro vivo. Cada vez que o abro, uma nova história se revela, como se estivesse se adaptando ao meu estado de espírito e às minhas experiências diárias. É quase como se o livro estivesse me observando, me entendendo de uma forma que eu nunca pensei ser possível.
Certa tarde, decido voltar à velha livraria onde ele encontrou a biblioteca secreta. A livraria é real, escondida numa rua pouco movimentada, com prateleiras abarrotadas de volumes antigos e esquecidos. O cheiro de papel envelhecido me envolve enquanto percorro os corredores estreitos. Ao fundo, encontro uma porta meio oculta por uma cortina empoeirada. Com o coração acelerado, empurro a porta e desço por uma escada em espiral que leva ao subsolo.
Lá está, exatamente como no livro: uma biblioteca subterrânea, cheia de livros sem títulos. Sinto uma estranha sensação de déjà vu ao caminhar entre as prateleiras, lembrando das descrições precisas que li. Pego um livro ao acaso e o abro, ansioso para ver que histórias ele guarda. As palavras começam a se rearranjar, formando uma narrativa que parece saída dos meus próprios pensamentos.

A história fala de uma mulher, que encontra um espelho mágico que reflete não apenas sua aparência, mas suas emoções mais profundas e ocultas. Cada vez que ela olha no espelho, vê um lado diferente de si mesma, uma faceta que ela nunca percebeu que existia. A narrativa é intensa e íntima, fazendo-me refletir sobre minhas próprias camadas ocultas.
Enquanto continuo lendo, sou interrompido por uma figura familiar: o amigo que me deu o livro. Ele sorri de forma enigmática, como se soubesse de todos os segredos que estou desvendando. “Vejo que encontrou a biblioteca”, diz, com uma voz suave. “Ela é um lugar especial, onde cada livro tem uma vida própria.”

“Como isso é possível?” pergunto, ainda maravilhado com a descoberta.

“Os livros aqui não são apenas objetos; são entidades vivas, alimentadas pelas experiências e emoções de quem os lê. Cada leitura é única, moldada pelo leitor. É por isso que o livro que te dei parece tão pessoal.”
Ele me explica que a livraria e a biblioteca são um refúgio para aqueles que buscam entender mais sobre si mesmos e o mundo ao seu redor. “As histórias que você lê aqui podem mudar sua vida, se você permitir.”
Agradeço ao amigo e passo horas mergulhado nas páginas daqueles livros mágicos. Cada um deles é uma viagem introspectiva, desafiando minhas percepções e me ajudando a crescer. Quando finalmente saio da livraria, sinto-me mais leve, como se tivesse deixado para trás um peso invisível.

A partir desse dia, a livraria subterrânea se torna meu refúgio. Sempre que sinto a necessidade de introspecção ou inspiração, volto lá para explorar as infinitas histórias que ela guarda. Cada visita é uma nova aventura, uma nova oportunidade de aprender e evoluir.
O livro que ganhei do meu amigo continua a ser um companheiro constante. Com o tempo, percebo que sua magia está em sua capacidade de se conectar profundamente com o leitor, oferecendo não apenas uma história, mas um espelho para a alma. Vou por aí, aprendendo com o que me envolve, e esse presente especial me lembra constantemente que o mundo é cheio de maravilhas, prontas para serem descobertas por aqueles que têm olhos para ver e coração para sentir.

E assim, sigo minha caminhada pelas ruas de paralelepípedos, com o livro mágico na mão e o coração aberto, sempre pronto para a próxima lição que o universo tem a oferecer.

Renato Pittas   

Contato:[email protected]

https://sara-evil.blogspot.com

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